6 de outubro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Vaza Jato: Moro foi contra MP investigar FHC, pois iria “melindrar apoio importante”

Moro disse não comentar “supostas mensagens de autoridades públicas colhidas por meio de invasão criminosa”

Então juiz da Lava Jato, Moro questionou uso de provas contra FHC por causa de “apoio importante”

O site The Intercept Brasil liberou novas mensagens vazadas da Vaza Jato, entre o juiz Sergio Moro e o procurador da República Deltan Dallagnol, coordenador da operação. Desta vez, eles conversaram sobre denúncias relativas ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) em 2017.

Quando Deltan citou a prescrição de um processo sobre FHC,  enviado ao Ministério Público de São Paulo pelo MP no DF, Moro afirmou achar “questionável” o envio da ação que poderia “melindrar alguém cujo apoio é importante.”

A data das mensagens é do dia 13 de abril de 2017, um dia após o Jornal Nacional, da TV Globo, reportar as citações a Fernando Henrique nas delações de executivos da Odebrecht. O ex-presidente da empresa, Emílio Odebrecht, , relatou o pagamento de vantagens indevidas às campanhas de FHC em 1993 e 1997.

Conversas de Moro e Dallagnol surgem como uma bomba no cenário jurídico e político

Como o caso foi enviado à primeira instância da Justiça de São Paulo, Sergio Moro, então juiz federal no Paraná, não tinha nenhuma ingerência. E como sugerem os diálogos vazados, Deltan e Moro tinham conhecimento de que os supostos crimesteriam prescrito. Deltan então cita o porquê do envio da ação para São Paulo: “talvez para o MPF passar recado de imparcialidade”.

O “recado” teria origem nas críticas que a Operação Lava Jato estava sofrendo, principalmente em relação à dicotomia PT e PSDB. Os procuradores supostamente perseguiam os petistas e não investigavam os tucanos. A crítica foi acentuada após Sergio Moro ser fotografado em momento de descontração ao lado de Aécio Neves (PSDB) durante um evento no final de 2016, da revista Isto É.

Outro lado

A assessoria do ministro Sergio Moro afirmou ao The Intercept que “não comenta supostas mensagens de autoridades públicas colhidas por meio de invasão criminosa, que podem ter sido adulteradas e editadas e que sequer foram encaminhadas previamente para análise”.

“Cabe esclarecer que o caso supostamente envolvendo o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso nunca passou pelas mãos do Ministro, então juiz da 13 Vara Federal de Curitiba, sendo encaminhado diretamente pelo Supremo Tribunal Federal a outros fóruns de justiça. Então, nenhuma interferência do então juiz seria sequer possível e nenhuma foi de fato feita”. Assessoria do ministro Sergio Moro.

Também ao The Intercept, o MP do Paraná afirmou que “a divulgação de supostos diálogos obtidos por meio absolutamente ilícito, agravada por um contexto de sequestro de contas virtuais, torna impossível aferir se houve edições, alterações, acréscimos ou supressões no material alegadamente obtido”.

A assessoria do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso confirmou que a investigação contra ele por acusação de caixa 2 em eleições foi arquivada.