A tragédia do carro de família, e um catador de rua, fuzilados com 80 tiros pelo Exército no Rio de Janeiro, ganha mais tons de hipocrisia, agora figura do Ministério Público Militar (MPM), que pediu à Justiça a soltura dos nove militares, que mataram o músico Evaldo Rosa e do catador Luciano Macedo, em Guadalupe, na Zona Norte do Rio.
O pedido faz parte de um habeas corpus impetrado pela defesa dos presos. Segundo parecer do subprocurador-geral da Justiça Militar Carlos Frederico de Oliveira Pereira, “não subsiste o risco à disciplina militar” da parte dos acusados.
No entendimento do subprocurador-geral, não houve descumprimento das regras de engajamento porque “o homicídio aconteceu quando tentavam salvar um civil da prática de um crime de roubo”. Reforçando: foram 80 tiros contra um carro com inocentes.
Quando a juíza Mariana Queiroz Aquino Campos, da 1ª Auditoria Militar do Rio, determinou que os nove militares permanecessem presos, a magistrada alegou que houve “quebra de regras de engajamento”. Ou seja, os militares atiraram sem que houvesse ameaça.
Os nove militares atualmente presos vão responder pelos homicídios das duas vítimas e pelas tentativas de homicídio contra os quatro parentes de Evaldo que estavam no carro. A denúncia ainda será apresentada à Justiça pelo MPM.
Macedo foi ferido ao tentar ajudar Evaldo e a família dele que estava a caminho de um chá de bebê quando tiveram o carro fuzilado. O sogro de Evaldo também foi ferido. A mulher do músico, a filha do casal de 7 anos e uma outra mulher não se feriram.
Incidente
Foram precisos eis dias para o presidente Jair Bolsonaro (PSL) se pronunciar sobre imperdoável fuzilamento. Mas era melhor ter ficado calado, já que, segundo o presidente, o que aconteceu não foram assassinatos, mas sim um “incidente”.
“O Exército não matou ninguém, não. O Exército é do povo. A gente não pode acusar o povo de assassino. Houve um incidente. Houve uma morte. Lamentamos ser um cidadão trabalhador, honesto”. Jair Bolsonaro, presidente do Brasil.
A declaração do presidente foi durante inauguração do aeroporto de Macapá. Bolsonaro classificou o assassinato de Rosa como um “incidente”, declarou que o Exército “não matou ninguém” e que a instituição não pode ser acusada de ser “assassina”.
Evaldo estava no carro com a família, incluindo esposa, sogro e um bebê, voltando de um chá de bebê, quando foram surpreendidos com mais de 80 tiros de metralhadora. Ele morreu no local e duas pessoas ficaram feridas. Os disparos atingiram também o catador Luciano Macedo, que tentava socorrer a família, e morreu dias depois.