19 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

“Um incidente”: Morre catador fuzilado por militares no Rio de Janeiro

Macedo foi ferido ao tentar ajudar o músico Evaldo e a família dele que estava a caminho de um chá de bebê quando tiveram o carro fuzilado

O catador de materiais recicláveis Luciano Macedo, 28, não resistiu à cirurgia na tarde desta quarta (18) e de acordo com a secretaria de Saúde do Rio de Janeiro, ele morreu às 4h20 de hoje.

O catador foi um dos baleados na ação do Exército no último dia 7, em Guadalupe, na zona norte do Rio, onde morreu também o músico Evaldo Rosa, que teve o carro atingido por 82 disparos realizados por militares do Exército.

Macedo foi ferido ao tentar ajudar Evaldo e a família dele que estava a caminho de um chá de bebê quando tiveram o carro fuzilado. O sogro de Evaldo também foi ferido e segue internado. O estado de saúde dele é considerado estável. Já a mulher do músico, a filha do casal de 7 anos e uma outra mulher não se feriram.

Macedo passou 11 dias internados no hospital Carlos Chagas, em Marechal Hermes, na zona norte do Rio. Atendendo a um pedido dos advogados da família, o paciente conseguiu na Justiça duas ordens para transferência de unidade de saúde, o que não ocorreu.

Assassinatos

Seis dias para o presidente Jair Bolsonaro (PSL) se pronunciar sobre imperdoável fuzilamento do músico Evaldo Rosa dos Santos, de 46 anos, por militares do Exército no Rio de Janeiro. Mas era melhor ter ficado calado, já que, segundo o presidente, o que aconteceu não foi um assassinato, mas sim um “incidente”.

“O Exército não matou ninguém, não. O Exército é do povo. A gente não pode acusar o povo de assassino. Houve um incidente. Houve uma morte. Lamentamos ser um cidadão trabalhador, honesto”. Jair Bolsonaro, presidente do Brasil.

A declaração do presidente foi durante inauguração do aeroporto de Macapá. Bolsonaro classificou o assassinato de Rosa como um “incidente”, declarou que o Exército “não matou ninguém” e que a instituição não pode ser acusada de ser “assassina”.

Evaldo estava no carro com a família, incluindo esposa, sogro e um bebê, voltando de um chá de bebê, quando foram surpreendidos com mais de 80 tiros de metralhadora. Ele morreu no local e duas pessoas ficaram feridas .Os disparos atingiram também um homem que tentava socorrer a família.

80 tiros

Dez militares foram presos em flagrante, dos quais nove tiveram as prisões convertidas em preventivas pela 1ª instância da Justiça Militar na quarta-feira 10. Nesta quinta-feira, (11), eles entraram com um pedido de liberdade no Superior Tribunal Militar (STM).

Nove dos dez militares presos em flagrante na ação que resultou na morte do músico Evaldo Rosa dos Santos tiveram suas prisões convertidas para preventiva na tarde desta quarta-feira (10). Eles passaram por audiência de custódia junto à Justiça Militar, que considerou que o grupo descumpriu “regras de engajamento” (abordagem).

O corpo de Evaldo foi enterrado nesta quarta-feira sob clima de revolta e clamor por justiça. O carro do músico, que estava com a família, foi metralhado por por no último domingo (7).

delegacia de homicídio do Rio, que investiga a morte de Evaldo dos Santos Rosa, que teve o carro metralhado por militares do Exército, disse em entrevista à TV Globo que “tudo indica” que os militares atiraram ao confundirem o carro com o de supostos assaltantes.

“Foram diversos disparos de arma de fogo efetuados, e tudo indica que os militares confundiram o veículo com um veículo de bandidos. Mas neste veículo estava uma família. Não foi encontrada nenhuma arma no carro. Tudo que foi apurado era que realmente era uma família normal, de bem, que acabou sendo vítima dos militares”. Delegado Leonardo Salgado, da divisão de homicídios.