Maria Inês Fini, que com sua equipe no Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão do MEC (Ministério da Educação), foi autoria do projeto original de avaliação, que hoje é o Enem.
A prova já tem 20 anos, desde sua primeira realização em 1998, com o Inep elaborando e organizando o exame, incluindo os conteúdos. Mas a transição neste ano será um dos maiores testes que o exame já enfrentou: o governo Bolsonaro.
O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), já antes da posse, acusou o Enem de fazer “ideologia de gênero” e “politicagem”,- prometendo mudanças. Ele já queria, inclusive, ver a prova com antecedência para “aprovar o conteúdo”.
E Fini já está com os dias contados. Quando questionado sobre a possibilidade dela assumir o Ministério da Educação, Jair foi pelo lado oposto: dará para ela o “cartão vermelho, não é nem amarelo”.
Os alvos de sua crítica foi uma questão da prova deste ano que tratava do “dialeto secreto” utilizado por gays e travestis. Ele disse que sua gestão “não tratará de assuntos dessa forma”.
“Uma questão de prova que entra na dialética, na linguagem secreta de travesti, não tem nada a ver, não mede conhecimento nenhum. A não ser obrigar para que no futuro a garotada se interesse mais por esse assunto. Temos que fazer com que o Enem cobre conhecimentos úteis”
Jair Bolsonaro
Ele afirma não querer acabar com o Enem, mas cobrar “o que realmente tem a ver com a história e cultura do Brasil, não com uma questão específica LGBT’. Ele acredita ainda que estas perguntas vão “estimular a molecada a se interessar por isso”.
O futuro ministro da Educação será Ricardo Vélez Rodríguez, professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e ele mais do que concorda com a afirmação.
Após as críticas do presidente eleito ao Enem 2018, Fini, familiares e amigos foram perseguidos e ofendidos pelas redes. “Fiquei muito assustada como nunca na vida.” Ela considerou tudo uma agressão pessoal indesculpável.
“É não compreender a natureza da prova e não entender que pedir para o jovem que ele identifique as características de um dialeto como uma identidade linguística de um pequeno grupo e, sem querer, foi o grupo LGBTI, não vai fazer ninguém virar homossexual.”
Maria Inês Fini
Ela estende o benefício da dúvida à leitura feita pelo presidente: “Houve um exagero de interpretação que foi alimentado também. Não acredito que o presidente tenha tido uma interpretação tão rasa”.