23 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Criadora sobre o Enem: Prova não faz ninguém virar homossexual

Uma das criadoras da prova, que completa 20 anos, será “expulsa” do governo Bolsonaro

Maria Inês Fini, que com sua equipe no Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), órgão do MEC (Ministério da Educação), foi autoria do projeto original de avaliação, que hoje é o Enem.

A prova já tem 20 anos, desde sua primeira realização em 1998, com o Inep elaborando e organizando o exame, incluindo os conteúdos. Mas a transição neste ano será um dos maiores testes que o exame já enfrentou: o governo Bolsonaro.

O presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL), já antes da posse, acusou o Enem de fazer “ideologia de gênero” e “politicagem”,- prometendo mudanças. Ele já queria, inclusive, ver a prova com antecedência para “aprovar o conteúdo”.

E Fini já está com os dias contados. Quando questionado sobre a possibilidade dela assumir o Ministério da Educação, Jair foi pelo lado oposto: dará para ela o “cartão vermelho, não é nem amarelo”.

Os alvos de sua crítica foi uma questão da prova deste ano que tratava do “dialeto secreto” utilizado por gays e travestis. Ele disse que sua gestão “não tratará de assuntos dessa forma”.

“Uma questão de prova que entra na dialética, na linguagem secreta de travesti, não tem nada a ver, não mede conhecimento nenhum. A não ser obrigar para que no futuro a garotada se interesse mais por esse assunto. Temos que fazer com que o Enem cobre conhecimentos úteis”

Jair Bolsonaro
Twitter de Carlos Bolsonaro, filho do presidente eleito

Ele afirma não querer acabar com o Enem, mas cobrar “o que realmente tem a ver com a história e cultura do Brasil, não com uma questão específica LGBT’. Ele acredita ainda que estas perguntas vão “estimular a molecada a se interessar por isso”.

O futuro ministro da Educação será Ricardo Vélez Rodríguez, professor emérito da Escola de Comando e Estado-Maior do Exército e ele mais do que concorda com a afirmação.

Após as críticas do presidente eleito ao Enem 2018, Fini, familiares e amigos foram perseguidos e ofendidos pelas redes. “Fiquei muito assustada como nunca na vida.” Ela considerou tudo uma agressão pessoal indesculpável.

“É não compreender a natureza da prova e não entender que pedir para o jovem que ele identifique as características de um dialeto como uma identidade linguística de um pequeno grupo e, sem querer, foi o grupo LGBTI, não vai fazer ninguém virar homossexual.”


Maria Inês Fini

Ela estende o benefício da dúvida à leitura feita pelo presidente: “Houve um exagero de interpretação que foi alimentado também. Não acredito que o presidente tenha tido uma interpretação tão rasa”.