3 de junho de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

BBB: As idas e vindas de Bolsonaro com a bancada “boi, bala e Bíblia”

A “nova política” do Governo é deficitária na articulação política e afetada até mesmo relação com bancadas aliadas

A nova política de Bolsonaro é deficitária na articulação política e afetada até mesmo relação com bancadas aliadas

Após fracassar em seu novo método de fazer política, os líderes das principais frentes parlamentares que apoiam o presidente sinalizam que não assinarão embaixo das pautas do Planalto.

Elas estão com dificuldade para dialogar com os articuladores do governo e até para marcar reuniões com ministros. Até mesmo os grupos “ideologicamente” mais próximos do presidente, a bancada “boi, bala e Bíblia”, como são chamados informalmente os representantes dos setores da agricultura, segurança e os cristãos na Câmara.

Capitão Augusto (PR-SP), presidente da Frente Parlamentar da Segurança Pública

Bala

A Frente Parlamentar da Segurança Pública é uma das bancadas mais incomodadas com a falta de articulação do governo. Isso fez com que os 305 membros optassem por suavizar a reforma da Previdência dos militares.

“Cada grupo tem seu interesse. O nosso é ligado aos policiais, pessoal da segurança. Se tivéssemos o mínimo diálogo com o governo, poderíamos nos unir para ajudar a aprovar o BPC (benefício para idosos carentes) e aposentadoria rural. Seria uma troca. Mas o governo não conversa. Então vamos focar esforços que temos para barrar pontos críticos da reforma dos militares”. Capitão Augusto (PR-SP), presidente da frente.

A principal reclamação da bancada da bala é sobre o tempo de aposentadoria, que seria aumentado de 30 para 35 anos para homens e mulheres. Se mudanças no quadro, o governo pode perder uma reforma ampla dos militares e alterações na dos civis, com menos economia para os cofres públicos, dificultando o cumprimento da meta do ministro da Economia, Paulo Guedes – R$ 1 trilhão em 10 anos.

O Capitão Augusto, que levanta a voz pra lembrar que apoiou o atual presidente na eleição, disse que a frente gostaria de indicar algum nome para o Senasp (Secretaria Nacional de Segurança Pública), mas isso não aconteceu, pois Bolsonaro diz ter acabado com a “velha política”, a do “toma lá, dá cá” em troca de cargos. Ao menos até onde conseguir isso.

Alceu Moreira (MDB-RS), presidente do grupo voltado para agricultura.

Boi

O único BBB que tem portas abertas no governo é o dos ruralistas. O acesso direto a ministros e secretários é algo raro no Congresso, onde o mais comum é lideranças partidárias reclamarem da dificuldade de serem ouvidos por membros do Executivo.

A bancada da Agricultura é a que tem, de fato, um pé no governo. Indicou a ex-coordenadora Tereza Cristina, a madame veneno para o posto de ministra. E Bolsonaro esteve pessoalmente na posse de Moreira. Mas a boa relação também não significa que a frente irá atuar pelo governo em temas além das fronteiras ruralistas.

“O objeto da frente parlamentar não é montar base. Ter ingerência com temas que não tem a ver com agro. Mas a convivência que temos na frente, o grau de cumplicidade entre nós, gera, com certeza, uma tendência em criar convergências e consensos”. Alceu Moreira (MDB-RS), presidente do grupo.

Nesta terça, o próprio Bolsonaro mostrou um agrado maior ao grupo do Boi, ao pedir que o Banco do Brasil reduza juros (e prejudicando ações da instituição) e, mais polêmico, prometendo um projeto que amplie a legítima defesa no campo, com uso de força letal.

Silas Câmara (PRB-AM), presidente da Frente Parlamentar Evangélica

Bíblia

“O governo é muito ruim para relacionamento. Muito ruim. Os ministros do governo Bolsonaro para relacionamento são muito, mas muito ruins”. Silas Câmara (PRB-AM), presidente da Frente Parlamentar Evangélica.

Sem meias palavras, o líder religioso pastor da Assembleia de Deus critica a articulação política do governo e a falta de base. O deputado considera que, apesar do diálogo ineficiente, há boa sinalização para os evangélicos enquanto o governo manter uma postura conservadora em temas como Educação e liberdades individuais.

Ou seja, enquanto Bolsonaro mencionar Deus, seguir reforçando que entidades religiosas não pagarão impostos e seguir com pautas “voltadas para família” e mão de peso nas questões escolares.

Foi a bancada religiosa, por exemplo, que vetou Mozar Ramos, do Instituto Ayrton Senna como ministro do MEC, por este ser contra o Escola sem Partido. Ficamos então com o olavista Vélez. Mas que isso não implica em uma atuação da bancada na articulação do governo.

“Posso te garantir que desde o começo eu disse: não vai dar certo a negociação do governo com bancadas. Porque bancada temática se junta por tema, como diz o título. Qualquer tipo de relacionamento de governo com bancada temática é um engodo, uma mentira. Um faz de conta”, avaliou.

Ao ser indagado qual o papel da frente para o governo, Silas disse que a pergunta deve ser feita ao presidente. Mas na avaliação do deputado, a bancada vive um momento de “muita paz e tranquilidade” em relação ao que o governo defende.

Bolsonaro, boi, bala e bíblia (montagem na internet)

Deu que, apesar de se dizer como alguém que não faz a velha política na articulação política, Bolsonaro não só tenta praticá-la, como se torna refém até mesmo de aliados quando não faz o toma lá, dá cá. E as pautas do governo não avançam.