7 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Bolsonaristas conspiram e Barroso pede que PF investigue ataque hacker ao sistema do TSE

Presidente do TSE fala sobre a demora de 3 horas na apuração de votos

Quase 500 grupos, perfis e páginas bolsonaristas e de outras correntes de direita se engajaram no Facebook no domingo (15) para defender o voto impresso e questionar a integridade das urnas eletrônicas e do TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

O movimento ganhou intensidade à medida que informações sobre um ataque de negação de serviço (DDoS) e um vazamento de dados no tribunal começaram a circular no fim da manhã da votação, que registrou um atraso histórico.

De acordo com a organização SaferNet, que investiga uma operação coordenada para os ataques hacker no dia das eleições municipais, um grupo de figuras bolsonaristas, incluindo investigados no inquérito das fake news, se movimenta desde outubro em uma série de postagens que questionam a credibilidade do TSE e a segurança das urnas.

“Colocam em dúvida a apuração, o resultado que seria anunciado, como se construíssem terreno para sustentar a narrativa de que houve fraude e não reconhecer o resultado em algumas cidades”. Thiago Tavares, presidente da organização que faz monitoramento nas redes e fornece o material ao Ministério Público e ao TSE.

Páginas e grupos com apoio explícito ao presidente Jair Bolsonaro e a outras figuras da direita, como o escritor Olavo de Carvalho e o ex-ministro da Justiça Sergio Moro, replicaram centenas de vezes uma publicação que foi originada pelo perfil da parlamentar Bia Kicis (PSL-DF).

No post, é estampada a imagem de uma pessoa com a máscara do grupo hacker Anonymous e uma frase do empresário Winston Ling que diz:

“Em dia de eleição, TSE é hackeado !? Hoje, 15/11, dia das eleições municipais, o grupo hacker Cyber Team anunciou que invadiu os servidores do TSE, e para comprovar o ator, expôs uma base de dados da entidade”.

Apesar de o grupo ter reivindicado o ataque e o TSE ter confirmado que houve vazamento de dados, mas que a ofensiva não comprometeu o pleito, agências de checagem julgaram que o conteúdo disseminado era parcialmente falso.

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, durante coletiva de imprensa

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Luís Roberto Barroso, pediu hoje (16) que a Polícia Federal (PF) investigue ataques cibernéticos aos sistemas da Corte.

Durante coletiva de imprensa no início da noite, Barroso disse que há suspeitas de articulação de grupos para desacreditar o sistema de votação.

Ontem (15), durante o horário da votação, o sistema de informática do TSE foi alvo um ataque de múltiplos acessos. No entanto, o ataque foi neutralizado pelo sistema de defesa e não houve vazamento de dados, segundo o tribunal.

As tentativas de invasão foram feitas por meio de servidores localizados no Brasil, Estados Unidos e Nova Zelândia. Esse sistema não tem relação com a apuração dos votos, que ocorre por meio de uma rede privada.

No mesmo dia, foram divulgados na internet dados pessoais de ex-servidores e ex-ministros. Segundo o presidente, os dados são antigos e foram liberados em sites da internet para tentar desacreditar a segurança da votação.

“Os dados vazados tinham mais de dez anos de antiguidade e divulgação foi feita no dia das eleições para procurar causar impacto e trazer a impressão de fragilidade no sistema. Ao mesmo tempo que esses dados foram vazados, milícias digitais entraram imediatamente em ação tentando desacreditar o sistema. Há suspeitas de articulação de grupos extremistas que se empenham em desacreditar as instituições, clamam pela volta da ditadura, e muitos deles são investigados pelo STF”. Luís Roberto Barroso.

Sobre o atraso de três horas na divulgação dos resultados, Barroso disse que a Oracle, empresa responsável pelo computador que apresentou defeito, será acionada para tentar resolver o problema para o segundo turno.

A forma de totalização (soma dos votos) centralizada no TSE vai continuar no segundo turno. Nas eleições passadas, a totalização era feita pelo tribunais regionais eleitorais e foi alterada por motivos de segurança e de custos.