3 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Brasil e Pantanal, que desde 1985 perdeu 75% de sua água, estão secando

Emissão de gases-estufa e o desmatamento da Amazônia são os maiores responsáveis

O Projeto de Mapeamento Anual do Uso e Cobertura da Terra no Brasil foi lançado para gerar uma série histórica de mapas anuais de uso e cobertura da terra do Brasil. E Tasso Azevedo, coordenador do MapBiomas, é claro em afirmar: “o Brasil está secando”.

Nas últimas três décadas, o país vem ficando cada vez mais seco. De 1991 até 2020, o território nacional perdeu cerca de 15,7% da superfície de água que possuía, o equivalente a 3,1 milhões de hectares. Todos os biomas apresentaram perdas, mas a situação mais preocupante é do Pantanal, com redução de 74% da superfície de água.

A partir de imagens de satélites Landsat, em pixels de 30 m por 30 m, e com auxílio de inteligência artificial, os pesquisadores conseguiram mapear a dinâmica mensal e anual dos corpos d’água superficiais do Brasil, desde 1985.

O dado encontrado foi tão surpreendente que os pesquisadores do MapBiomas repetiram diversas vezes as verificações dos modelos para confirmar o que era visto.

O pico de área de superfície de água ocorreu em 1991 e, desde então, fica clara a tendência de perda. Considerando todo o período analisado, desde 1985, a redução fica na casa de 7,6%. Segundo os dados, há tendências de perda de água em 8 das 12 regiões hidrográficas do país.

A Amazônia, desde 1985, teve uma leve oscilação positiva de 0,5%. Mas, tomando como ponto de partida 1991, a perda é de 13%. Na caatinga, a queda da superfície de água ficou em 15%; no cerrado, em 5,5%; no pampa, em 0,4%; e na mata atlântica, em 4,6%, todos com referência no pico, em 1991.

A situação mais crítica é a do Pantanal, ironicamente, um bioma caracterizado por ser alagadiço. Ele perdeu 74% de sua superfície de água desde 1985 e 71% desde 1991.

Em áreas em que em 1985 seria possível ver espelhos d’água, hoje são encontradas zonas secas. Hoje, apesar da queda em todo o período, nos últimos dez anos o processo ficou mais acentuado.

A água no Pantanal é um elemento que ajuda a controlar incêndios. Com a diminuição da área alagada e mais temporadas sem chuva, a matéria orgânica vai ficando mais seca e mais propensa ao fogo.

Em 2019, grandes incêndios na Amazônia chamaram a atenção do mundo. Em 2020, ficou clara a potência que as chamas podem ganhar no Pantanal. Em meio a um período amplamente seco, mais de 20% do bioma queimou, levando também a perdas de fauna na região, prejuízos para proprietários rurais e ainda o potencial de problemas respiratórios atrelados à fumaça das queimadas.

Duas coisas explicam a crise climática, que provoca a expansão dos períodos secos e chuvas mais concentradas em um curto período de tempo.

O relatório do IPCC (Painel Intergovernamental de Mudança do Clima) lançado recentemente mostra que esse processo deve se intensificar e aponta a urgência em ações para reduzir drasticamente a emissão de gases-estufa. O segundo ponto destacado pelo coordenador do MapBiomas é o desmatamento da Amazônia.

A expansão da fronteira agrícola, que, usa os recursos hídricos e faz intervenções, também pode ter contribuído para a situação. As dezenas de barragens para produção hidrelétrica em rios que formam o bioma podem contribuir para a situação de menor quantidade de água.

“Estamos em uma trajetória em que não há nenhum elemento para voltarmos ao que era antes. As condições estão dadas para perdermos mais água. Podemos estar criando as condições para acabar com o recurso”. Tasso Azevedo.