2 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Coaf: Promotor do caso Flávio/Queiroz é fã dos Bolsonaro

Claudio Calo já relativou 48 depósitos do filho do presidente e no Twitter diz não ver relações com lavagem de dinheiro

Vai acabar em pizza. O promotor escolhido para cuidar do caso Fabrício Queiroz, ex-assessor de Flávio Bolsonaro no Rio de Janeiro, Cláudio Calo, já chegou a dizer que o relatório do Coaf “não necessariamente” indica crime. E diante de seu histórico nas redes sociais, ele é muito fã do clã Bolsonaro.

E não jogadas palavras ao vendo: quando o jornalista Reinaldo Azevedo disse que os livros do ministro da Justiça, Sérgio Moro, são claros que as movimentações encontradas pelo Coaf são uma “conduta clara e típica de lavagem de dinheiro”. O promotor Calo não tem tanta certeza:

No mesmo mês, ele compartilhou uma publicação do próprio Flávio Bolsonaro, que empregou Fabrício Queiroz. No tuíte, Flávio anunciava que daria uma entrevista, em que tentaria se explicar das acusações.

Há uma semana, Calo compartilhou um tuíte de Carlos Bolsonaro exaltando a economia do governo Bolsonaro com hospedagem em Davos, e comparando os gastos à viagem de Dilma Rousseff.

O promotor também curtiu publicações de Jair Bolsonaro. Em uma, de novembro, Bolsonaro diz que “por muito tempo nossas instituições de ensino foram tomadas por ideologias nocivas e inversão de valores, pessoas que odeiam nossas cores e hino”.

Noutra, do mês passado, mostra um vídeo em que um homem detido estaria se machucando de propósito para influenciar uma audiência de custódia.

Filho do presidente

Marco Aurélio, ministro do STF (Supremo Tribunal Federal), negou nesta sexta (1º) o hipócrita pedido do senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) para que as investigações sobre movimentações financeiras atípicas de um ex-assessor seu passassem a tramitar na corte.

No dia 17 de janeiro, o ministro Luiz Fux o atendeu e suspendeu investigação criminal do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro que apura movimentações financeiras atípicas de Fabrício Queiroz, ex-assessor do filho do presidente, que durante a campanha se dizia o foro privilegiado.

Corrupção e milícias

Apesar de todas as denúncias na Rede Globo, o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ) segue ignorando a emissora para dar respostas. Se antes já concedeu entrevistas na Record e Rede TV, agora foi a vez da SBT. E nesta quinta-feira (24), ele afirmou que não vai renunciar ao mandato “para proteger o governo federal”.

Além de ficar com o salário de funcionários na Assembleia Legislativa do Rio, quando vereador, e todo o imbróglio de seu assessor Queiroz no Coaf, foi descoberto que o filho do presidente está envolvido com milícias do Rio. Além de dar trabalho para policiais do sindicato do crime, ele homenageou os criminosos que podem estar envolvidos na morte da também vereadora Marielle Franco, ano passado.

Entre oficiais generais da ativa, das três Forças, existe um consenso de que Flávio não foi convincente até aqui nas explicações que mistura operações financeiras envolvendo imóveis no Rio com a movimentação atípica de valores seus e de seu ex-assessor.

Alguns setores da cúpula das Forças Armadas fizeram chegar ao núcleo militar do Planalto a sugestão de que Flávio não assumisse a cadeira no Senado Isso poderia, para eles, evitar a contaminação do debate legislativo pelo caso. Ele negou:

É uma mentira, nem sei de onde surgiu essa história. Vou tomar posse e trabalhar muito. Não vou me afastar, e quero aproveitar a oportunidade para falar da grande perseguição que estou sofrendo”. Flávio Bolsonaro, senador eleito (PSL-RJ).

Seu pai, o presidente, passou a mão em sua cabeça. Nesta semana, na TV Record, depois de fugir da entrevista coletiva nesta semana, isso foi o que ele resolveu dizer:

“Nós não estamos acima da lei, como qualquer outro estamos embaixo da lei. Agora que cumpra a lei, não faça de maneira diferente para conosco. Não é justo atingir o garoto para tentar me atingir. Para o meu filho aquele abraço, fé em Deus, que tudo será esclarecido com toda certeza”. Jair Bolsonaro, presidente.

E Flávio tende a seguir utilizando a imagem de garoto inocente ao lado do pai:

Flávio e Queiroz: corrupção

Para esconder este e futuros problemas, o Banco Central já estuda excluir parentes de políticos da lista de monitoramento obrigatório das instituições financeiras e acabar com a exigência de que todas as transações bancárias acima de R$ 10 mil sejam notificadas ao Coaf.

Ou seja: casos como os de Flávio nunca viriam à tona.

Ataques à Globo

O filho do presidente Jair Bolsonaro aproveitou para acusar o Ministério Público do Rio de Janeiro (MP-RJ) de vazar informações contra ele para a TV Globo. Antes, em nenhum momento, ele chegou a criticar todos os vazamentos de investigações em outros partidos.

Flávio Bolsonaro reiterou que a investigação do Ministério Público “tem muitas coisas estranhas, ilegalidades flagrantes, claras”. Segundo Bolsonaro, seu sigilo foi quebrado, argumento que já foi contestado pelo MP-RJ, depois que o senador eleito pediu suspensão da investigação no STF, por conta de seu foro especial.

Milícias

Até novembro do ano passado, senador eleito Flávio Bolsonaro empregou em seu gabinete, na Alerj, a mãe e a mulher do capitão Adriano Magalhães da Nóbrega, que é suspeito de comandar milícia no Rio de Janeiro.

Homem-forte do Escritório do Crime, Adriano faz parte da organização suspeita do assassinato de Marielle Franco. O policial foi alvo de um mandado de prisão nesta terça-feira e está foragido.

Raimunda Veras Magalhães e Danielle Mendonça da Costa da Nóbrega ocupavam o cargo CCDAL-5 e ganhavam R$ 6.490,35 e deixaram o gabinete no mesmo dia, em 14 de novembro. Citada no relatório do Coaf que investiga o ex-assessor Fabrício Queiroz, Raimunda repassou R$ 4.600 para a conta do ex-policial militar.

Marielle Franco e Marcelo Freixo

O miliciano Adriano, por duas vezes, foi homenageado por Flávio Bolsonaro na Alerj. Em 2003, propôs uma moção de louvor ao policial militar por desenvolver sua função com “dedicação, brilhantismo e galhardia”. À época, o miliciano já estava preso por homicídio.

Não só isso, como após homenagear os dois principais suspeitos de comandarem a milícia que estaria envolvida no assassinato de Marielle Franco, Flávio foi o único a votar contra a proposta de Marcelo Freixo (PSol) de conceder a medalha Tiradentes em homenagem à vereadora.

Mas, suas palavras na SBT, claro, foram outras:

“Eu sou contra as milícias. Sempre fiz a defesa dos servidores da segurança pública, mas sou contra qualquer tipo de estado paralelo”

Veja a entrevista completa: