9 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Conta do ministro Salles é excluída do Twitter após Maia ser chamado de ‘Nhonho’

Ministro que já ameaçou servidores públicos que denunciam queimadas e desmatamento foi silenciado nas redes sociais

Presidente da República, Jair Bolsonaro durante coletiva com a imprensa com o Ministro de Estado do Meio Ambiente, Ricardo Salles,. Foto: Marcos Corrêa/PR

Após a saída de Abraham Weintraub no ministério da Educação, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, desponta facilmente como o pior ministro do Governo Bolsonaro. Tarefa essa que não é fácil, diante da disputa que conta com nomes como Ernesto Araújo, Paulo Guedes ou Damares.

Mas Salles conseguiu se superar, a ponto de ter sua conta no Twitter excluída, na manhã desta quinta (29).

Quem tentou visualizar hoje o perfil do ministro do Meio Ambiente topou com a mensagem “Essa conta não existe”. Isso aconteceu depois de Salles chamar de “Nhonho” o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que criticou a gestão do ministro de Bolsonaro:

Nhonho é o apelido do personagem Febronio Barriga Gordorritúada, interpretado por Édgar Vivar, da série de TV mexicana “Chaves”. Críticos de Maia se referem ao presidente da Câmara como Nhonho.

Antes de ter o perfil excluído, ainda nessa manhã, Salles disse que “alguém” utilizou sua conta para fazer aquela postagem.

“Fui avisado há pouco que alguém se utilizou indevidamente da minha conta no Twitter para publicar comentário junto a conta do Pres. da Câmara dos Deputados, com quem, apesar de diferenças de opinião sempre mantive relação cordial”. Ricardo Salles.

O ministro afirmou ainda que ele mesmo fez o “procedimento de segurança” ao retirar do ar sua página.

No início da semana, Rodrigo Maia e o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP) já haviam criticado publicamente Ricardo Salles, depois que ele pediu para que o ministro-chefe da secretaria de Governo da Presidência da República, Luiz Eduardo Ramos, deixasse de lado a postura de “Maria Fofoca”, incendiando a disputa entre as alas ideológicas e militares do governo.

A publicação de Salles nas redes sociais ganhou apoio de seguidores e de aliados do presidente Bolsonaro, como a deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) e o filho Eduardo Bolsonaro (PSL-SP). Por outro lado, parlamentares do centrão saíram em apoio a Ramos, como o senador Ciro Nogueira (PP-PI) e o deputado Marcelo Ramos (PL-AM).

Gestão Salles

O avanço do desmatamento e das queimadas sobre a região da Amazônia colocou a política ambiental do governo Bolsonaro no centro de críticas de investidores estrangeiros, ruralistas e ambientalistas, que pressionam o governo por uma resposta contra a destruição da mata.

O presidente tem minimizado a crise, e em discurso na Assembleia-Geral das Organizações das Nações Unidas (ONU), atribuiu ao “cabloco e o índio” a disseminação do fogo e disse haver uma “campanha brutal de desinformação” contra o Brasil.

Nos primeiros quatro meses deste ano, o desmatamento na Amazônia foi recorde com um aumento de 55% em relação ao mesmo período de 2019.

A gestão de Salles também foi criticada pela exoneração de servidores em postos de fiscalização dos órgãos ambientais e a criação de regras que dificultaram o pagamento de multas por infrações contra o meio ambiente

Pedido de afastamento no MPF

O MPF (Ministério Público Federal) apresentou recurso ao TRF-1 (Tribunal Regional Federal da 1ª Região) contra a decisão da Justiça Federal que negou o afastamento de Salles do Ministério do Meio Ambiente.

O pedido foi feito em ação de improbidade administrativa que acusa Salles de desestruturar intencionalmente os órgãos estatais de proteção ambiental. O MPF aponta que, ao negar o afastamento de Salles, a Justiça ignora jurisprudência que prevê intervenção judicial quando a permanência de um acusado de improbidade coloca em risco bens fundamentais e direitos constitucionais.

O documento cita várias decisões de tribunais em que autoridades públicas foram mantidas afastadas de seus cargos para proteger a probidade administrativa e direitos coletivos.

O ministro já ameaçou servidores públicos de instauração de processo administrativo disciplinar, impede os órgãos ambientais — Ibama (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis) e ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) — de falarem com a imprensa e produz um clima de ameaça e silenciamento entre os servidores federais.