6 de outubro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Na ONU: Contra desconfiança global, Bolsonaro quer mudar imagem do Brasil

Cabe ao presidente do Brasil fazer o discurso de abertura, marcado para as 9h, seguido do presidente dos EUA

Postagem original

O presidente Jair Bolsonaro chegou na tarde de segunda-feira (23) a Nova York, nos Estados Unidos, onde participará da abertura da 74ª Assembleia Geral das Nações Unidas (ONU). Nesta terça-feira (24), Bolsonaro tem encontro confirmado com o secretário-geral da ONU, António Guterres, poucos minutos antes de seu pronunciamento na Assembleia Geral.

Isolado, Bolsonaro não tem em sua agenda encontros bilaterais previstos com outros chefes de Estado. A agenda inclui, segundo o Palácio do Planalto, um encontro com o ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani. Pelas redes sociais, o presidente disse que no discurso será “a oportunidade de apresentar ao mundo o Brasil que estamos construindo.

 

Tradicionalmente, cabe ao presidente do Brasil fazer o discurso de abertura, seguido do presidente dos Estados Unidos. Essa é a primeira vez que ele participará do evento, que reúne, anualmente, a maioria dos chefes de Estado de todo o mundo. Seu discurso está marcado para as 9h.

Moderação

Num momento marcado pelas cobranças de ações coordenadas contra a mudança climática, o Brasil surge na defensiva e busca amenizar a desconfiança internacional provocada por declarações recentes do presidente.

Jair Bolsonaro foi aconselhado a alardear a agenda econômica do governo em seu discurso. Sugestão enviada por técnicos do ministério de Paulo Guedes prega que o pacote de medidas elaborado para a área seja apresentado como o mais ambicioso entre os dos países emergentes.

Aliados do presidente acreditam que ele deve pontuar as aprovações da reforma da Previdência na Câmara e da proposta da Liberdade Econômica, além de acordos comerciais.

O discurso pró-reformas vai se somar à fala em defesa de ações voltadas ao Meio Ambiente. O governo está determinado a usar a Assembleia da ONU como palco para tentar reverter o desgaste do Brasil no exterior.

No meio do ano, a missão do Brasil na ONU enviou ao Itamaraty pontos do dossiê da agenda internacional que poderiam ser aproveitados como base do discurso do presidente. Entre os temas, direitos humanos, desenvolvimento sustentável e acordos de paz.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro (PSL-SP) e o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo

Diferentemente de anos anteriores, no entanto, diplomatas dizem que o roteiro não deve ser aproveitado pelo presidente brasileiro, que elaborou sua fala sob tutela de Ernesto, do general Augusto Heleno (GSI), do secretário para assuntos internacionais da Presidência, Filipe Martins, e de seu filho, Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), escolhido por ele para ser embaixador do Brasil nos EUA.

Bolsonaro, que desembarcou e chegou ao hotel sem falar com a imprensa, no entanto, deu sinais de que pretende adotar um tom moderado para evitar confronto com outros líderes. Ele ficou sob pressão principalmente depois que o presidente francês, Emmanuel Macron, e a chanceler alemã, Angela Merkel, apontaram publicamente o risco de retrocessos na agenda do Brasil para o meio ambiente.

O tempo protocolar para o discurso de Bolsonaro será de 20 minutos. A ideia é que o presidente use o máximo do período para tentar defender a tese de que seu governo não conduz uma política ambiental negligente e que a crise da Amazônia tem sido utilizada por outros países como forma de intervir na soberania brasileira.

Segundo diplomatas brasileiros, Bolsonaro dirá que o país não tolera crimes ambientais e que as queimadas e o desmatamento na floresta agora não destoam da média dos últimos 20 anos. Além da questão ambiental, Bolsonaro deve fazer ainda críticas aos regimes na Venezuela e em Cuba, como sinal de apoio ao opositor e autodeclarado presidente interino venezuelano, Juan Guaidó.