20 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Copom mantém Selic em 13,75% ao ano e petistas defendem saída do presidente do Banco Central

Ministro do Trabalho já sugeriu até mesmo psiquiatra para o indicado de Bolsonaro no BC, que ficará até 2024

O Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a taxa Selic, juros básicos da economia, em 13,75% ao ano. A decisão divulgada após reunião nesta quarta-feira (3) foi unânime.

“O ambiente externo se mantém adverso. Os episódios envolvendo bancos no exterior têm elevado a incerteza, mas com contágio limitado sobre as condições financeiras até o momento, requerendo contínuo monitoramento. Em paralelo, os bancos centrais das principais economias seguem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas, em um ambiente em que a inflação se mostra resiliente”. Comunicado divulgado pelo Banco Central (BC).

O documento também afirma que, em relação ao cenário doméstico, “o conjunto dos indicadores mais recentes de atividade econômica segue corroborando o cenário de desaceleração esperado pelo Copom, ainda que exibindo maior resiliência no mercado de trabalho”.

“A inflação ao consumidor, assim como suas diversas medidas de inflação subjacente, segue acima do intervalo compatível com o cumprimento da meta para a inflação. As expectativas de inflação para 2023 e 2024 apuradas pela pesquisa Focus elevaram-se marginalmente e encontram-se em torno de 6,1% e 4,2%, respectivamente”.

A taxa continua no maior nível desde janeiro de 2017, quando também estava em 13,75% ao ano. Essa foi a sexta vez seguida em que o BC não mexeu na taxa, que permanece nesse nível desde agosto do ano passado. Anteriormente, o Copom tinha elevado a Selic por 12 vezes consecutivas, num ciclo que começou em meio à alta dos preços de alimentos, de energia e de combustíveis.

Antes do início do ciclo de alta, a Selic tinha sido reduzida para 2% ao ano, no nível mais baixo da série histórica, iniciada em 1986. Por causa da contração econômica gerada pela pandemia de covid-19, o Banco Central tinha derrubado a taxa para estimular a produção e o consumo. A taxa ficou no menor patamar da história de agosto de 2020 a março de 2021.

Governo Lula

A decisão de manter a taxa básica de juros em 13,75% ao ano, apesar da apresentação do projeto de arcabouço fiscal, o Comitê de Política Monetária (Copom), gerou críticas por parte de membros do governo e do PT, que defendem a saída do presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.

O ministro do Trabalho, Luiz Marinho, afirmou que a lei de autonomia do Banco Central permite que o mandato de Campos Neto termine antes do previsto.

“Quem tem mandato pode perder. O Senado tem que assumir a responsabilidade e pode muito bem convocá-lo”. Não é possível que o presidente do Banco Central não tenha nenhum órgão de controle ao qual obedeça. O Copom é um ser invisível? Não tem de dar satisfação para ninguém?”

Indicado pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, Campos Neto tem mandato até dezembro de 2024. “Não sei para qual senhor ele está rezando”, insistiu o ministro do Trabalho. No mês passado, Marinho disse que, se Campos Neto não anunciasse a redução dos juros nessa reunião do Copom, seria preciso “chamar um psiquiatra”.

No ato de 1.º de Maio, em São Paulo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez novas críticas à alta taxa de juros.

“Não podemos viver em um País onde a taxa de juros não controla a inflação. Ela controla, na verdade, o desemprego, porque ela é responsável por uma parte da situação que vivemos hoje”.

Na prática, uma eventual exoneração do presidente do BC precisa ser aprovada por maioria absoluta do Senado. Não se trata de um processo simples, mesmo porque, antes disso, a saída teria de passar pelo crivo do Conselho Monetário Nacional (CMN), que é formado pelos ministros Fernando Haddad (Fazenda), Simone Tebet (Planejamento) e pelo próprio Campos Neto.

“Quanto já custou ao país o negacionismo econômico de Campos Neto? Quantos empregos, empresas falidas, famílias destruídas?”, perguntou a presidente do PT, Gleisi Hoffmann. “A vacina sempre esteve ao alcance do Copom, mas insistem nos juros genocidas. Até quando ficarão impunes?”

Inflação

A Selic é o principal instrumento do Banco Central para manter sob controle a inflação oficial, medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). Segundo o comunicado, a manutenção da taxa considerou entre outros fatores, a persistência das pressões inflacionárias globais, incerteza sobre o desenho final do arcabouço fiscal a ser analisado pelo Congresso Nacional e uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada.

“Por um lado, a reoneração dos combustíveis e, principalmente, a apresentação de uma proposta de arcabouço fiscal reduziram parte da incerteza advinda da política fiscal. Por outro lado, a conjuntura, caracterizada por um estágio em que o processo desinflacionário tende a ser mais lento em ambiente de expectativas de inflação desancoradas, demanda maior atenção na condução da política monetária”, diz o comunicado.

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