20 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Cunha não apoiará Lula e nem Bolsonaro, único que defendeu assassino de sua mãe, Ceci Cunha

Candidato do União Brasil tem ao seu lado os bolsonaristas Arthur Lira, presidente do Congresso, e JHC, prefeito de Maceió

Eleito para o senado federal em 2018 surfando na onda bolsonarista, ainda que de forma tímida, Rodrigo Cunha (União), candidato ao governo de Alagoas, vai mais uma vez se esquivar de endossar apoio a um candidato à presidência nas eleições.

Assim, neste 2º turno, ele não vai pedir votos para Lula (PT), que é candidato dos Calheiros e de seu rival nas urnas, o governador Paulo Dantas (MDB), e muito menos para Jair Bolsonaro (PL).

Isso apesar de Arthur Lira, o presidente do Congresso e que em Alagoas patrocina sua campanha, estar apoiando de forma incondicional o presidente Bolsonaro – seja não tirando da gaveta ao menos um dos mais de 100 pedidos de impeachment ou de forma satisfatória usufruindo do orçamento secreto.

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Vale constar ainda que seu outro cabo eleitoral de peso, JHC, o prefeito de Maceió, não só apoia Jair Bolsonaro neste 2º turno como se filiou ao PL, partido do presidente que concorre à reeleição.

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Tudo conspiraria a favor: não escolher o candidato do rival e apoiar o presidente que mais deu votos em sua capital, além de se alinhar politicamente com seus principais aliados de campanha.

E isso acaba deixando tudo pior, pois Cunha foi colocado em uma situação politicamente desconfortável.

O maior dos problemas é o fato de Jair Bolsonaro, quando deputado federal em 1998, ter sido o único membro do parlamento a discursar defendendo o assassino da mãe dele, a deputada Ceci Cunha.

Bolsonaro

Há quase 24 anos, em dezembro de 1998, a deputada federal Ceci Cunha, eleita em Alagoas e que tinha como suplente o já deputado Talvane Albuquerque, foi assassinada.

Seu suplente contratou um pistoleiro e produziu uma chacina em Maceió, mantando seu alvo principal e familiares dela.

Talvane foi cassado e, então, após longos 12 anos, foi finalmente julgado e condenado pelos múltiplos homicídios, cumprindo 9 anos de prisão em regime fechado, do qual foi liberado no ano passado.

Um ano após os assassinatos, a Câmara analisava a cassação do assassino, para que ele então perdesse o mandato e fosse julgado pela Justiça comum.

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Durante a sessão que o tirou do parlamento, por 425 votos a favor de cassá-lo contra 29 que optaram por mantê-lo no cargo, apenas um deputado foi à tribuna para fazer uma defesa explícita de um deputado que mandou matar toda uma família para permanecer com seu mandato: Jair Bolsonaro.

“Contra o relatório! Porque amanhã, qualquer um de nós, pode estar no lugar dele… Estamos o condenando por um contato com um cidadão, com um elemento, que foi um marginal no passado… Agora, quem aqui nunca teve contato ou conversou com um marginal”? Bolsonaro, sobre a relação de Talvane com o assassino de aluguel.

Após o crime, Pedro Talvane ainda chegou a tomar posse na Câmara Federal, em fevereiro de 1999, mas foi cassado no dia 8 de abril por quebra de decoro parlamentar.

Cunha

Apesar disso tudo, Cunha se eximiu de declarar voto a presidente. Mesmo tendo recebido 26,79% ou 407.220 mil dos votos no 1º turno (contra 46,64% dos votos válidos ou 708.984 votos de Dantas) e facilmente podendo ficar contra o homem que defendeu o assassino da própria mãe.

Mas política falou mais forte e ele segue com os bolsonaristas JHC e Arthur Lira.

O candidato a governador de Alagoas, Rodrigo Cunha (União) anunciou em vídeo, na manhã desta terça-feira (11) que não irá declarar apoio a nenhum candidato à presidência. Ele diz que “meu lado é Alagoas”.

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Na mensagem, Cunha afirma estar ao lado do povo de Alagoas, posicionando-se em favor do diálogo com o próximo presidente a ser eleito em 30 de outubro, independentemente do vencedor.

Leia na íntegra o pronunciamento de Rodrigo Cunha:

“As pessoas estão divididas por toda parte. Tem gente que vota em Lula, mas não quer votar no Paulo Dantas porque sabe que é a mesma coisa que votar nos Calheiros e na banda podre da Assembleia. Como tem gente que vota em Bolsonaro, mas não quer votar em Paulo Dantas, porque sabe que se ele for eleito, ele não vai fazer parcerias com o governo federal como hoje em dia, prejudicando todo nosso estado. O governador de Alagoas não pode se dar ao luxo de escolher o presidente do Brasil. Eu já tenho um lado: meu lado é Alagoas. Eu quero ser governador para resolver os problemas de nosso estado, como a fome, o desemprego, a violência, a corrupção e os piores indicadores sociais do país. Quero ser governador para enfrentar cada uma dessas mazelas, com trabalho, humildade e parceria com o governo federal. Sem picuinha, independente de quem venha a ser eleito presidente. E o meu principal aliado e você”.