19 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
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De Brumadinho ao Pinheiro: o show da impunidade e do oportunismo político

A cumplicidade na impunidade é uma festa muito além das ideologias.

Brumadinho e Mariana, em Minas Gerais, e o bairro do Pinheiro, em Maceió, Alagoas. O que eles têm comum? Do ponto de vista da tragédia, felizmente, aqui a situação passa distante. Em comum mesmo, eles têm o oportunismo político em todos os níveis e correntes.

Nunca é demais lembrar que, via de regra, salvo pequenas proporções, o ser político na defesa dos próprios interesses mata até a mãe, desde que ele não seja apontado como responsável.

Mas, é  exatamente quando as tragédias acontecem que aparecem uma enxurrada de mandatários com soluções mágicas e opiniões para marcar posição em cima da dor alheia.

Em todos os casos, tudo poderia ter sido evitado se a preocupação política fosse de antes: com a prevenção,  proteção do meio ambiente e a qualidade de vida da sociedade.

Mas, até pouco tempo, pouquíssimo mesmo, o que se dizia pelos quatro cantos do País é que essa história de meio ambiente era discurso de “esquerdopata”.

Pois bem. Brumadinho, Mariana e o Pinheiro mostram que não. Meio ambiente precisa ser discurso de esquerdopata, “direitopata”, da besta fera e do raio que o parta, sem tirar nem por.

Meio ambiente é vida. E vida merece respeito, dignidade e proteção.

Veja que foram três anos apenas da tragédia de Mariana para a de Brumadinho. E o que pontuou de lá para cá? Só  o desrespeito. Dos políticos, da justiça, das esfuziantes instituições fiscalizadoras, incluindo aí as agências reguladoras que nada fazem nesse País. Só atuam contra a cidadania, favorecendo os investidores por razões que quase todos conhecem.

“O Brasil não aprende com as lições da história”, disse o representante do Ministério Público mineiro, Guilherme de Sá, ao lidar com o caso de Brumadinho, depois de ter vivido a tragédia de Mariana, três anos antes. Ele tem razão. O Brasil, lamentavelmente é isso. Esqueceu de dizer que nem ele aprendeu. Aliás, na época de Mariana tinha elementos suficientes para pedir a prisão do dono da mineradora. Não o fez. Agora, muito mais. Prenderam as “candundas” e deixaram as traíras livres.

A questão é perceber que acidentes acontecem. São imprevistos. Menos no caso de Mariana, Brumadinho e do Pinheiro maceioense. Esses nunca foram imprevistos. Pelo contrário. As tragédias mineiras foram e vinham sendo anunciadas. Mas, cabia aos mega capitalistas do minério dizerem que tudo estava sob controle. E assim o fizeram dezenas de vezes.

No Pinheiro, o questionamento sobre a exploração da sal gema em Maceió foi questionada desde a década de 70, por estudiosos e cientistas como o professor José Geraldo Malta Marques. Ninguém levou a sério. Para as autoridades, o professor apenas fazia poesia sobre o meio ambiente.

O Pinheiro passou a ter problemas desde o anos 80, quando as primeiras rachaduras passaram a ser mostradas pelos moradores nos blocos de apartamentos do Jardim das  Acácias. Autoridade nenhuma deu ouvidos. E tudo foi cozido no tradicional “banho Maria”.

Agora vêm forças políticas, poder instituído, igrejas, os capitalistas interessados, a mídia e até a cega Dedé para falar em solução com o leite derramado e a catástrofe chamando à atenção do mundo.

Lá nas Gerais, o que todos viram foi uma escala de assassinato em massa provocado pela mesma empresa, o mesmo tipo de acidente e na mesma região. Há responsáveis de primeiro, segundo, terceiro… centésimo escalões.

Cá, no Pinheiro tudo pode acontecer, inclusive nada. Só não dar mais para tirar a dor e os traumas gerados nas famílias da área em que o problema se anuncia.

Tudo isso por absoluto desrespeito ao meio ambiente e pela ganância capitalista.

Sim, mas os políticos. Ora, aqui ou em qualquer lugar eles ganham eleições financiados por mineradoras, pelo agronegócios, indústrias de defensivos (veneno) agrícolas, indústrias das armas, entre outras, empresas como as Havan da vida. Tudo isso debaixo das barbas da justiça.

Aliás, historicamente, a justiça é cúmplice de crimes ambientais no país inteiro.