29 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Jair Bolsonaro retoma discurso mais radical para agradar eleitor fiel

De olho no 2º turno, presidente volta a adotar falas mais radicais, em aceno ao eleitorado conservador. Analistas apontam acerto na estratégia

Por Ingrid Soares (CB)
Bolsonaro volta ao discurso mais radical de olho nas eleições.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) abandonou a aparente pacificação e retomou a sua roupagem radical costumeira. Durante a semana, o presidente voltou ao discurso radical em aceno ao eleitorado fiel na tentativa de garantir um lugar no segundo turno no pleito eleitoral ao Palácio do Planalto.

O grupo varia entre 15% e 20% do total de votos e, segundo especialistas, podem levá-lo ao objetivo. Ao mesmo tempo, dá munição à oposição, aumentando ainda a rejeição na população em geral.

No ano passado, o presidente criticou reiteradas vezes o sistema de urnas eletrônicas e o ápice da crise com o Supremo ocorreu no dia 7 de setembro, quando ameaçou não cumprir decisões de Moraes. Bolsonaro divulgou uma nota dizendo que as declarações ocorreram “no calor do momento”.

O líder do Planalto também tem investido em uma nova leva de entrevistas a rádios e emissoras menores em uma nova empreitada contra a vacinação de crianças de 5 a 11 anos e embates públicos com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), mesmo diante da terceira onda da COVID no país.  Na quarta-feira, sugeriu que a variante ômicron é até ‘bem-vinda’. Com letalidade menor, mas com capacidade de disseminação maior, o vírus pode sobrecarregar o sistema de saúde. O presidente ainda enfrenta a possibilidade de instauração de uma nova CPI da COVID-19.
“Sempre tive uma bandeira muito forte em defesa da família, dos costumes, das crianças em sala de aula, contra a ideologia de gênero, favorável ao armamento. Essas questões todas me levaram a ser conhecido perante o eleitor”, emendou em declaração a um site de direita.

CHANCES

O cientista político Cristiano Noronha, da Arko Advice, ressalta que apesar de o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparecer como favorito nas pesquisas, Bolsonaro tem chance. Ele aponta medidas populistas como o pagamento do Auxílio Brasil e o perdão de dívidas do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) de até 92% como ações que podem ajudar a reverter, ao menos momentaneamente, a baixa popularidade.

“A partir do dia 18 começa a ser pago o Auxílio Brasil no valor de R$ 400, por exemplo. E isso pode ter impacto na popularidade e aumentar os índices de intenção de votos. Apesar de ter um ambiente hostil com inflação alta, crescimento pequeno da economia, desemprego elevado, ele mantém eleitorado fiel em torno de 25% das intenções de voto”, observa.

“Havendo melhora no quadro geral da economia e esses tipos de ações específicas incluindo ainda que o governo pode acabar com a bandeira de escassez hídrica em abril, o que pode reduzir o preço da energia elétrica, existem fatores que tendem a ajudar o presidente nessa disputa”. Ao mesmo tempo, lembra, o ex-presidente Lula surfa em um ambiente favorável enquanto o governo sofre de problemas incluindo a nova onda de pandemia. “Ainda tem muita água para rolar, mas Bolsonaro tem chances. Tem muito chão até outubro”, acrescentou.

Paulo Baía, cientista político e professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), avalia que as últimas pesquisas de intenções de voto vão confirmando um retrato ainda prévio das eleições, embora o ex-presidente Lula lidere as preferências. Isso porque, conforme Baía, o petista está bem protegido e não há ataques contra ele, o que o coloca, portanto, em um nível de aceitação elevado.

O especialista destaca que as falas à sua bolha interna podem levá-lo ao segundo turno. “Bolsonaro, apesar de todo o desgaste, da impopularidade e do aumento da rejeição, mantém uma fidelidade do seu eleitor na faixa de 15% a 20% dos votos válidos, o que assegura uma posição do mandatário no segundo turno das eleições”, avaliou.

Nesse sentido, diz, o discurso político radical e negacionista de Bolsonaro, sobretudo em relação à pandemia, é uma estratégia muito inteligente de fidelizar os seus eleitores. “Embora seja considerado absurdo, o movimento antivacina é grande, e até muito maior do que as pessoas pensam, pois existem milhões de brasileiros não adeptos a Bolsonaro e que são contra a vacinação. Portanto, esse eleitor pode se fidelizar ao presidente”, afirmou.

De acordo com Baía, o discurso do chefe do Executivo é voltado para manter a preferência de um eleitor fiel, “que não deixará de votar nele em hipótese alguma”. “Então, Bolsonaro quer assegurar uma fatia do eleitorado que representa de 15% a 20% das intenções dos votos. E é nesse público que o discurso bolsonarista encontra eco”, frisou.