19 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Justiça

Laranja: “Hacker” era bolsonarista e terá “mensagens roubadas” destruídas por Moro

Provável bode expiatório não terá muitas chances de se defender: ministro da Justiça fará uma literal queima de arquivo

O “hacker” usa o Windows 10, não sabe esconder seu IP (maneira mais básica de identificar computador/usuário), guarda as supostas invasões no desktop, sabia que a Polícia Federal o estava investigando e mesmo com R$ 600 mil guardados, e esperou os agentes na casa da avó, onde morava, e não pensou em fugir.

É com essa figura surreal que o ministro da Justiça, Sergio Moro, espera enterrar o escândalo da Vaza Jato, onde foi flagrado em conluio com procuradores da Lava Jato, ignorando totalmente o papel de juiz que fazia na época.

Um dos alvos da Operação Spoofing, o motorista de aplicativo Danilo Cristiano Marques, de 33 anos, era conhecido por familiares e amigos por ser bolsonarista fervoroso. Por isso, estranharam quando o viram envolvido com um grupo de supostos hackers que invadiram o Telegram de diversas autoridades, entre elas o próprio presidente Jair Bolsonaro e os ministros Sergio Moro e Paulo Guedes.

Mas este provável bode expiatório não terá muitas chances de se defender: depois de informar que o presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), João Otávio Noronha, também teria sido “hackeado”, Moro informou que as mensagens serão destruídas,

Em depoimento ao Senado no dia 19 de junho, Moro defendeu que o site Intercept Brasil, que divulgou as mensagens, entregasse o material para ser periciado.

“Pega o material e entrega para uma autoridade, sem prejuízo da publicação das matérias. Aí vai se poder verificar por inteiro esse material, o contexto no qual ele foi inserido e principalmente verificar se esse material é autêntico ou não. Porque até agora não temos nenhuma demonstração da origem desse material”. Sergio Moro, no senado, em 19 de junho.

Agora, ao invés de fazer uma contra-prova, comparar com os vazamentos do The Intercpet ou mesmo usar como evidência o que os “hackers” bolsonaristas filiados ao DEM, mas que queriam vender dados ao PT, realmente teriam feito. Não. Tudo será deletado.

Com essa ação, Moro agrada ao “tio do zapzap”, que aceitará sem engolir mais essa: apesar de pedir desculpas por algumas mensagens e não ter certeza se teria dito ou não algumas coisas, tudo será deletado. O ex-juiz está propondo uma literal queima de arquivo. Alguém precisa também zelar pela vida destes “hackers”.

Laranja

Segundo pessoas próximas, Marques não tem nenhuma ligação com os ataques hackers e foi pego por ser um “laranja” da dupla Walter Delgatti Neto, 30, e Gustavo Henrique Elias Santos, 28, considerado pelos investigadores os principais suspeitos do esquema. A principal prova contra Marques é o IP de um dispositivo cadastrado no seu nome, de onde teriam partido ataques hacker.

A defensora pública Manoela Maia Cavalcante Barros, que defende Danilo Marques, diz, no entanto, que o contrato de internet em questão foi assinado por ele, mas que o serviço era utilizado por Walter Delgatti. Segundo Manoela, ele fez um favor ao amigo ao colocar seu nome no contrato, uma vez que Delgatti tinha restrições por ter passagens pela polícia.

Em suas publicações no Facebook, Danilo Marques declara abertamente apoio a Bolsonaro e Moro. Na época da campanha, no ano passado, incluiu “Bolsonaro 17” em sua foto de perfil e publicou vídeos ao vivo de comícios em prol do candidato do PSL. Marques também usou as suas redes para fazer críticas ao ex-presidente Lula e à campanha Lula Livre.