19 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Lula derrotou Bolsonaro, mas bolsonarismo segue vivo no Congresso e metade do eleitorado

Jair não foi reeleito, mas colocou bancada de peso que fará dor de cabeça e mais de 58 milhões de eleitores devem fazer barulho

Pela primeira vez na história do Brasil, um presidente foi eleito com mais de 60 milhões de votos. Luís Inácio Lula da Silva (PT) recebeu, precisamente, 60.345.999. É um apoio massivo, mas não tão diferente do que recebeu o derrotado Jair Bolsonaro (PL), presidente que teve 58.206.354.

Com uma diferença de apenas 0,9%, fica evidente portanto que o Brasil rachou. Mais ainda do que quando Dilma Roussef (PT) superou Aécio Neves (PSDB), quando a petista recebeu 51,64% dos votos válidos para a petista, superando o rival em 3,4 milhões de votos. Desta vez são menos de 2,1 milhões de votos de diferença.

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E esse eleitorado, que deve antagonizar os próximos quatro anos de Lula, vale lembrar, colocou nas assembleias estaduais e federais nomes de peso do bolsonarismo, que prometem impor mais dificuldade ainda.

O ponto mais delicado será cumprir uma das principais promessas de campanha e acabar com o orçamento secreto, manobra do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que solidificou o centrão ao lado de Bolsonaro e se mostrou muito eficiente eleitoralmente. Lira, aliás, já disse que deve-se respeitar a maioria conservadora do Congresso.

Lula nem esconde e vive repetindo que o Brasil de 2023 será mais difícil de governar do que o Brasil de 2003.

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Oposição eleita

Dos 513 deputados eleitos, só o PL, legenda de Bolsonaro, conseguiu emplacar a maior bancada da Casa, com 99 parlamentares —23 a mais que a bancada atual. Com isso, o partido terá quase um em cada cinco votos na Câmara, o que o torna peça chave no jogo político.

Para alívio do próximo governo, o PT também cresceu e passou de 56 para 68 nomes. A federação composta pela sigla petista com o PV e o PCdoB soma, no total, 81 deputados. A outra federação que também apoia Lula, formada pelo PSOL e pela Rede Sustentabilidade subiu de 10 para 14 deputados.

A eleição para o Senado também foi marcada pela vitória de aliados de Bolsonaro: os partidos de direita emplacaram 19 das 27 vagas em jogo, incluindo a eleição de ex-ministros, como: Tereza Cristina (PP-MS), Damares Alves (Republicanos-DF), Marcos Pontes (PL-SP) e Rogério Marinho (PL-RN).

Também foram eleitos para o Senado o atual vice-presidente da República, Hamilton Mourão (Republicanos-RS), e o ex-secretário de Bolsonaro, Jorge Seif (PL-SC).

Outros aliados de Bolsonaro conquistaram cadeiras na Casa, como Magno Malta (PL-ES), Wilder Morais (PL-GO) e Hiran Gonçalves (PP-RR), além de Wellington Fagundes (PL-MT), Romário (PL-RJ) e Cleitinho (PSC-MG). Sergio Moro (União Brasil-PR), que fazia oposição ao governo, se elegeu com bandeiras do presidente, de quem se reaproximou no segundo turno.

Centrão

Na avaliação do sócio diretor da Contatos Assessoria Política e analista político do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar), André Santos, a governabilidade de Lula não está ameaçada, mas o petista está mais em desvantagem em relação ao tamanho das bancadas.

Segundo Santos, a base da esquerda contaria com aproximadamente 120 deputados, podendo chegar a 140, se incluir os parlamentares do PDT.Com os partidos de centro, entre eles o PSDB, Cidadania, MDB e PSD, por exemplo, o número pode chegar a 340.

Esses partidos não compõem a base bolsonarista, mas tinham posição alinhada com a do governo Bolsonaro em algumas propostas. Os principais partidos aliados de Bolsonaro atualmente são o PP, sigla de Lira, o PL e o Republicanos. Esses somam 187 deputados.

Discurso de união

Ciente deste cenário, já em tom de estadista, Lula repetiu mais de uma vez a promessa de que, na primeira semana após ser eleito, reunirá todos os 27 governadores —seus apoiadores ou não— para ouvir demandas, reclamações e estreitar laços.

Com isso, Lula pretende marcar uma diferença em relação o Bolsonaro, que não lidou bem com a oposição. Com a vitória petista, o desafio que se impõe é saber se estes vão querer se reunir com ele, assim como uma parcela expressiva da sociedade que foi até o fim com Bolsonaro. Os antagônicos vencidos, agora, precisam ser governados.