7 de outubro de 2024Informação, independência e credibilidade
Blog da Graça Carvalho

Meu coração é vermelho, Freitas Neto, presente!

Matando as saudades de um velho comunista!

Meu primeiro voto foi para o Partido Comunista (PCB), muito bem influenciada pelo meu tio João Vicente Freitas Neto. Não, ele não era comedor de criancinhas. Gente de direita e de esquerda sabe muito bem disso. Ele era um político íntegro, que assumia sua ideologia e lutava por uma sociedade mais justa.

Seu amor por Cuba e sua vontade, para alguns, muito ingênua, de fazer a revolução recolhendo lápis e cadernos para mandar à Ilha de Fidel, bombardeada pelo então  embargo econômico americano, envolvia quem se aproximava dele. Cansei de testemunhar as longas conversas que ele mantinha com pessoas de todas as idades chamando a atenção para detalhes nunca divulgados pela imprensa imperialista sobre a Revolução Cubana e seus desdobramentos.

Foi essa convivência com uma pessoa extremamente franca e corajosa que me fez entender a importância de abrir o coração e expressar meus posicionamentos. De ir às ruas, quando necessário, de contribuir, por meio de minha profissão, para propagação de ideias propulsoras da solidariedade, da igualdade, da fraternidade e da liberdade de expressão.

Essa formação na escola de tio João me fez o que sou. Ele nunca me exigiu carteirinha do PCB. Aliás,  eu nunca me filiei ao PCB, nem mesmo ao  Partidos dos Trabalhadores (PT),  cuja história conheci, ainda menina, quando passava férias na casa de vovó Adélia, onde ele mantinha uma extensão da sua biblioteca. (Eram, de fato, muitos papéis, livros para não acabar mais. E, entre eles, vários sobre sindicalismo, e todas as correntes ideológicas da esquerda brasileira e internacional).

Aprendi com ele, desde a adolescência,  a não ter medo de emitir minhas opções políticas, mesmo quando não eram iguais às dele.   Virei adulta e ainda pude desfrutar mais um pouco da companhia de um tio João muito amado e respeitado, até o trágico acidente que o vitimou (juntamente com tia Gracinha), em 1997.  Hoje, lendo em tudo quanto é de site as ameaças do Lord Voldemort contra os “vermelhos”, lembrei do meu “velho comunista” e senti uma saudade danada.

Que me desculpe quem pensa o contrário, mas, tenho certeza de que meu tio João saberia muito bem qual partido tomar neste segundo turno. Ele jamais marcharia com a omissão.  Então, pensando nele, eu reafirmo, bem forte,  “meu coração é vermelho” e compartilho aqui a música  que ecoou no Sindicato dos Jornalistas de Alagoas naquela semana tão triste do adeus a ele.

Freitas Neto, presente!