30 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Ministro admite receber ordens de pastores citados em áudio, mas isenta Bolsonaro

“Minha prioridade é atender os que são amigos do pastor Gilmar (…) O apoio que a gente pede não é segredo, (…) é apoio sobre construção das igrejas

O ministro da Educação, Milton Ribeiro, negou nesta terça-feira (22) que o presidente Jair Bolsonaro (PL) “pediu atendimento preferencial” para dois pastores.

Em nota, o chefe da pasta ignorou as informações reveladas em áudio divulgado ontem à noite pelo jornal “Folha de S.Paulo”.

“O Presidente da República não pediu atendimento preferencial a ninguém, solicitou apenas que pudesse receber todos que nos procurassem, inclusive as pessoas citadas na reportagem”. Trecho da nota de Milton Ribeiro.

Na gravação obtida pela Folha, Ribeiro fala sobre os dois pastores evangélicos. “Foi um pedido especial que o presidente da República fez para mim sobre a questão do [pastor] Gilmar”, diz o ministro no áudio.

Segundo a reportagem, o governo federal priorizaria prefeituras ligadas a dois pastores (Gilmar Silva dos Santos e Arilton Moura Correia). Sem cargos, a dupla atuaria em um esquema informal de obtenção de verbas do MEC.

Vazamento

Na conversa revelada pelo jornal, participaram prefeitos, os dois religiosos e lideranças do FNDE. Na reunião, que aconteceu dentro do MEC, o ministro falou sobre o orçamento da pasta, cortes na educação e ainda sobre a liberação de recursos para essas obras:

“Minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, diz o ministro. Então o apoio que a gente pede não é segredo, isso pode ser [inaudível] é apoio sobre construção das igrejas”.

No ano passado, em evento no MEC com os dois pastores, prefeitos conseguiram a liberação de recursos para novas obras. Um deles, da cidade de Anajatuba (MA), que tem 27 mil habitantes, conseguiu seis obras empenhadas. A prefeitura sequer comprou os terrenos.

Após a divulgação do áudio, diversos parlamentares acionaram hoje órgãos de controle público após as recentes denúncias envolvendo a gestão de Milton Ribeiro no MEC (Ministério da Educação).

A minoria da Câmara dos Deputados protocolou no STF (Supremo Tribunal Federal) uma notícia crime contra o presidente Jair Bolsonaro e Ribeiro. O senador Fabiano Contarato (PT-ES) também entrou com uma notícia crime no Supremo, mas apenas contra o ministro.