5 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Moro compartilhou com Bolsonaro documento sobre laranjas, mas recusa cópias à imprensa

Investigação tramita sob segredo na 26ª Zona Eleitoral de Minas Gerais e provoca dúvidas éticas e legais

O gabinete do ministro Sergio Moro (Justiça e Segurança Pública) se recusou a divulgar cópia da documentação, para a Folha, que, segundo o próprio presidente Jair Bolsonaro, o ministro lhe entregou.

A Presidência também se recusou a fornecer a documentação, sob o argumento de que a solicitação era “uma duplicata” e que o Ministério da Justiça e Segurança Pública é que responderia.

O caso dos laranjas do PSL, partido de Bolsonaro, é alvo de investigações da PF e do Ministério Público em Minas e em Pernambuco e levou à queda do ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Gustavo Bebianno, que comandou o partido em 2018.

A Polícia Federal vê indicativos de participação do ministro do Turismo, Marcelo Álvaro Antônio, em um suposto esquema que direcionou verbas de campanha eleitoral para empresas ligadas ao seu gabinete na Câmara.

Pouco antes do vazamento, a Polícia Federal prendeu em Brasília e em Minas Gerais um assessor especial e dois ex-assessores do ministro Marcelo Álvaro Antônio (Turismo). A ação da PF foi fruto da apuração sobre caso revelado em fevereiro.

Ministro ao lado de uma das laranjas

Vazamento

Em entrevista coletiva no Japão em maio, o presidente Jair Bolsonaro deixou escapar que o ministro Sergio Moro lhe deu acesso privilegiado a dados do inquérito sobre os laranjas do PSL, com uma cópia do que foi investigado pela Polícia Federal. Não só isso: ele foi além e abriu o bico dizendo que mandou um assessor ler, pois estava sem tempo.

O problema é que esta investigação tramita sob segredo na 26ª Zona Eleitoral de Minas Gerais e provoca dúvidas éticas e legais. Para piorar, Bolsonaro foi além. Sem se dar por satisfeito, o presidente “determinou” a Moro que “determinasse” à PF que “investigue todos os partidos” com problemas semelhantes.

“Tem que valer para todo mundo, não ficar fazendo pressão em cima do PSL para tentar me atingir”. Jair Bolsonaro, presidente.