9 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
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O vírus, a eleição e a crise do aperto de mão: quem vai querer se contaminar?

Boatos sobre o vírus H2N3 aumentam a busca por álcool gel nas farmácias. Mas… O que vem por aí?

(*) – Boatos de que o vírus H2N3 –  uma espécie de “primo” (mais agressivo) do temido H1N1 –  teria chegado ao Brasil  e causado várias mortes já deflagaram nova corrida às farmácias, em busca do álcool em gel 70% , aquele aprovado pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e anunciado pelos revendedores por “garantir 99,99% de proteção contra micro-organismos”. Ninguém quer se contaminar.

Em contato com o Blog, no início da manhã de hoje,  a farmacêutica Ângela Souza, especializada em farmacologia clínica, confirmou o aumento das vendas desse tipo de álcool em gel  na distribuidora de produtos médicos e hospitalares onde atua. “Zeramos o estoque da versão 60 ml.  Só temos agora, a versão 500 ml. Já fizemos pedido. Deve chegar na próxima semana”, afirmou  Ângela.

Numa rápida consulta aos locais de venda do produto em Maceió, o Blog apurou que, em média, um frasco com 50 a 60 ml custa R$ 4,00. A depender da popularidade da pessoa, evidentemente, o produto pode não durar muito tempo e esse tipo de prevenção sair muito caro. Inacessível para muita gente, evidentemente.

Pois é, antes de sair por aí economizando no aperto de mão, o momento é de buscar informações. No âmbito nacional, o Ministério da Saúde (MS) já desmentiu notícias divulgadas via redes sociais de que o H2N3 estaria causando mortes em Goiânia, capital do estado de Goiás. Segundo o MS, no Brasil, só estão circulando o influenza A/H1N1pdm09, A/H3N2 e influenza B.

Em Alagoas, há três dias, a Secretaria de Estado da Saúde de Alagoas (Sesau) divulgou que há pelo menos uma pessoa infectada pelo H3N2 no estado. Ou seja, não se trata mesmo  do tipo H2N3 (informação que coincide com a do MS),  mas de H3N2, que desde 2014, também  já andava circulando por aqui.  Diante dessa verdadeira sopa de letrinhas, o leitor há de estar se perguntando se, na dúvida, não é melhor juntar uns trocados no cofrinho para o álcool em gel.

SEM PÂNICO

O Blog ouviu o professor dos cursos de Medicina da Ufal e da Uncisal Fernando Maia, integrante da equipe de infectologistas do Hospital de Doenças Tropicais (HDT), sobre toda essa controvérsia epidemiológica. Ele também foi categórico: não tem H2N3 por aqui. “Não há motivo para pânico”, ressaltou. Contudo, ponderou ser importante as crianças, até cinco anos, idosos, acima de 60 anos de idade, e pessoas acometidas por doenças crônicas ou imunodeprimidas  aderirem à vacinação, que acontecerá, no Estado, a partir do dia 23 deste mês (inicialmente para os profissionais de saúde).

Tal vacinação vai cobrir, segundo o infectologista, os tipos de vírus da gripe em já circulação. O problema é o de sempre: e as outras pessoas? Não se vacinam? Não. Podem contrair o vírus? Podem, em menor escala. Por isso, a prevenção, por outros meios, é importante. O álcool em gel 70% é mesmo eficiente? Sim, o infectologista recomenda, mas não como substituto da água e do sabão. Fora isso, mais cuidados devem ser tomados: evitar locais aglomerados, higienizar as mãos depois de usar o banheiro e evitar tocar nos olhos, na boca e nas narinas, sem a devida higiene.

Em 2013, quando o H1N1 começou a circular no Brasil, esses cuidados chegaram até as missas. Durante um longo período, o tradicional “saudai-vos uns aos outros”, momento dos abraços e dos apertos de mãos, foi suspenso na grande maioria das igrejas. Quem sabe não se está diante de nova crise do aperto de mão.   Em tempo,  na campanha eleitoral deste ano, o corpo a corpo do político com o eleitor pode perder ainda mais espaço  por conta desse vírus e das sopas de letrinhas. Afinal, ninguém vai querer se contaminar (de forma nenhuma).

(*) Por Graça Carvalho (interina)