7 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Óleo vazado em praias do Nordeste pode ser de navio alemão afundado na 2ª Guerra Mundial

Teoria é corroborada pelos grandes pedaços de borracha, em praias do Nordeste, que aparecem desde o fim do ano passado

O ministro da Defesa, Fernando Azevedo, afirmou novamente que o óleo que atingiu 138 localidades em 62 cidades de nove estados da Região Nordeste não é brasileiro e que ainda está sendo apurado o responsável pelo derramamento desse óleo.

O DNA do óleo, que foi produzido por outros países e não é o Brasil, foi ligado à Venezuela. Ainda que sem afirmar categoricamente, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, mencionou o país sul-americano e Bolsonaro, indo além, disse que o vazamento é “quase com certeza” criminoso.

Entretanto, existe a possibilidade do vazamento vir de um navio alemão, afundado em 1944, durante a Segunda Guerra Mundial.

Um grupo de pesquisadores estudando a origem do óleo que está desaguando nas últimas semanas em praias do Nordeste trabalha com a hipótese do afundado décadas atrás estar sofrendo novo vazamento.

A teoria está sendo investigada pelo químico oceanógrafo Rivelino Cavalcante, da Universidade Federal do Ceará (UFC), que saiu em expedição nesta semana para coletar amostras a serem enviadas para o Instituto de Oceanografia de Woods Hole (WHOI), nos EUA, que vai investigar a composição do material.

Isso tudo é corroborado pelos grandes pedaços de borracha, em praias do Nordeste, que aparecem desde o fim do ano passado. O material foi identificado como sendo “fardos” de látex, forma típica que a indústria da borracha usa para transportá-los.

Caixas de borrachas, de origem desconhecida, voltaram a encalhar em praias do Nordeste, na última semana, e uma delas causou acidente com duas mortes, na praia de Santa Rita, em Extremoz, região metropolitana de Natal. No ano passado, a região já havia registrado casos de caixas que apareceram sem explicação em praias.

Um buggy que transportava quatro pessoas colidiu frontalmente com um pacote, por volta das 19h do último sábado (8), e matou na hora Núbia de Almeida, 40, e deixou três pessoas feridas, sendo duas em estado grave. Na segunda, uma das pessoas feridas, Jéssica Fonseca, 42, não resistiu aos ferimentos. Ela estava internada com politraumatismo no hospital Walfredo Gurgel, em Natal.

E Carlos Teixeira, oceanógrafo da UFC, buscando registros de naufrágios no Atlântico, encontrou a localização de um navio alemão afundado em 1944, a 1.000 km do Recife, que estava transportando essa carga. Um dos fardos achados na Bahia indicava “Indochina Francesa” (atuais Camboja, Laos e Vietnã) como a origem do produto.

“Como a Indochina Francesa deixou de existir em 1953, creio que respondemos à pergunta sobre de onde veio essa borracha. Esse navio alemão navegava “disfarçado” com o nome de SS Rio Grande, uma coisa comum durante a Segunda Guerra. A localização dele, bastante profunda, já é conhecida com precisão”. Carlos Teixeira, oceanógrafo da UFC.

O pesquisador acreditava que o vazamento de óleo também viesse deste naufrágio, mas mudou de ideia: correu ontem na comunidade científica notícia extraoficial de que a Petrobras classificou o óleo como de extração recente, o que invalida a tese do naufrágio.

Apesar de Rivelino e Reddy estarem ainda apoiando a hipótese, Teixeira diz ter perdido o entusiasmo, porque confia nas comunicações informais que obteve. A Petrobras não se pronunciou sobre o assunto. A Marinha descartou a hipótese de naufrágio recente, mas não se pronunciou sobre a possibilidade levantada pela UFC.

Localização do naufrágio do navio alemão e a possível rota dos detritos

Um fato curioso é que, numa simulação de correntes feita por Teixeira, partículas de óleo liberadas a partir da localização do SS Rio Grande teriam uma distribuição similar à do óleo visto agora nas praias do Nordeste. O pesquisador, cauteloso, diz que só retomaria essa linha de investigação diante de uma confirmação de que o óleo é de extração antiga.