29 de março de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Presidente da Câmara com dinheiro do Governo, Lira diz não precisar de Bolsonaro para se reeleger

Líder do centrão diz não haver relação entre liberar R$ 20 milhões em emendas para aliados como “compra de voto”

Ex-líder do PSL, o deputado federal Delegado Waldir (PSL-GO) afirmou, em entrevista ao site The Intercept Brasil, que governo Jair Bolsonaro pagou por votos dos parlamentares em votações consideradas prioritárias, como a aprovação da Reforma da Previdência e a eleição de Arthur Lira (PP-AL) como presidente da Câmara.

E um dia depois da revelação de que cada deputado recebeu o direito de destinar R$ 10 milhões para suas bases eleitorais na eleição do Câmara, algo que não era segredo e precisava apenas de uma confirmação, Lira tentou se desligar da imagem de Bolsonaro afirmando que não precisa do Presidente da República para se reeleger.

“A vida do presidente Bolsonaro é uma. A minha vida é outra”, disse ele à Folha observando apenas o pressuposto de que se mantiver sua aliança com o Planalto, poderia se prejudicar em seu projeto político.

O que é verdade: deputado federal por Alagoas desde 2011, Lira pode tranquilamente conseguir os votos em seu estado para um quinto mandato consecutivo – isso porque entre 1993 e 1999 fora vereador por Maceió e logo depois foi deputado estadual por 2 anos.

Judiciário

Provavelmente formulada antes das acusações do Delegado Waldir, a entrevista que Lira concedeu à Folha não possui nenhuma pergunta sobre a acusação dos R$ 10 milhões em emenda que cada deputado ganhou como incentivo para votar nele como presidente do Cogresso. Muito menos dos R$ 20 milhões para cada um que aprovou a PEC dos Precatórios mais recentemente.

Lira, no entanto, teceu comentários contrários sobre STF ser contra a “emenda do relator”, ou o orçamento secreto, afirmando ser “anormal” o Judiciário interferir desta maneira no Legislativo.

“Não podemos achar que uma decisão dessa é normal. De 1988 a 2019, ninguém sabia o que o relator-geral fazia e ninguém questionava. Com a alteração da lei que a gente fez para que ficasse marcado no Orçamento todas as emendas de relator, era para ter transparência para o Congresso, senadores e deputados. Se isso foi mal compreendido e precisa ser aprimorado, que se faça por legislação”. Arthur Lira.

Trocando em miúdos: apesar da escancarada propina por votos, do inflacionado mensalão ou indecente bolsolão, Arthur Lira acredita que o Judiciário não deveria interferia nesta farra parlamentar, de deputados votando não no conteúdo da pauta, mas no volume que recebem em seus currais eleitorais.

Leia mais: Arthur Lira defende que Brasil adote o semipresidencialismo
Arthur Lira diz ser “inaceitável” e “ferir de morte” o indiciamento de deputados pela CPI

Ele, aliás, reconhece que a medida, pagar milhões de reais pelos votos de deputados, não é “correta”, mas que faz parte do jogo político. Uma discricionariedade que Bolsonaro chamava de toma lá dá cá. E que foi eleito prometendo acabar com isso, não escancarar de forma safada. Mas que ele não vê de nenhuma forma deste jeito:

“É um absurdo [relacionar com o mensalão]. Criminalizar emenda, eu sempre vou bater de frente. Eu que tenho 30 anos de mandato sei as alterações dessas emendas na vida das pessoas, em municípios pobres. Essa é uma discussão que está na bola da vez, como foi cloroquina, a máscara, a vacina, a crise hídrica, energia, o dólar. O Brasil está num ritmo de perenização de crise. Antes era normal administrar a cada três meses, hoje estamos administrando uma a cada semana. Estamos nos acostumando”. Arthur Lira.

Lira pode até estar acostumado com tudo isso. Com o dólar alto (que provocou aumento nos preços de praticamente tudo, da vacina (que o governo não queria e depois tentou lucrar com propina), crises hídricas e energéticas (que vão afetar nossos bolsos mais ainda) e agora ess do uso de emendas como forma de incentivo para votar em projetos danosos. Que bom que ele está se acostumando.

Mas acredito que boa parte dos brasileiros não aguenta mais. Seja o ato por si só ou quem o faz dizer que não há nada de errado. Não há diferenças entre “Amazônia não pega fogo por ser úmida” e “emendas não estão sendo usadas para comprar voto”. É continuar achando que brasileiro é idiota. Fora que estes milhões são mais um colete salva-vidas para a única pauta que Lira não vai abrir. Nenhuma das mais de 100: