Foram 16 horas de discussão, para enfim, o Senado decidir por 59 votos a 21, sem abstenções, que a Presidente afastada Dilma Rousseff (PT) passaa ser oficialmente ré em processo por crime de responsabilidade (veja abaixo como cada senador votou).

Após a conclusão desta segunda etapa, que registrou o discurso de 47 oradores, Dilma irá a julgamento na fase final do processo, em sessão prevista para ser realizada a partir de 25 de agosto.
Em raro registro sobre o número de presentes, o painel eletrônico do plenário mostrava quórum de 81 senadores em boa parte da sessão – mas, ao final dos trabalhos, exatamente às 2h38 desta quarta-feira (10), 80 nomes ainda constavam dos registros.
Foram mais de 16 horas de sessão em plenário para que o relatório de Anastasia, uma vez aprovado, abrisse caminho para o último ato no Senado, depois de um período de oito meses de disputas – enredo iniciado com a decisão pró-impeachment por parte do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ), anunciada em 2 de dezembro e vista como vingança por aliados da presidente afastada.
Coube a Sérgio Petecão (PSD-AC) proferir o último discurso da jornada inciada às 9h44, quando uma rodada de questões de ordem teve e início e consumiu toda a manhã desta terça-feira (9). Por coincidência, também pertence ao PSD o primeiro senador a discursar na tarde de ontem – José Medeiros (MT), estreante no Legislativo federal. Ambos votaram contra Dilma.
Conduzida pelo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Ricardo Lewandowski, a votação foi encarada como um termômetro para o julgamento final. Nesta etapa, exige-se ao menos 41 votos para que o texto seja aprovado – ou seja, o grupo contrário ao retorno da presidente ao cargo conseguiu quase 20 votos a mais. A margem dá mais segurança ao presidente interino Michel Temer, cada vez mais próximo da confirmação no cargo como efetivo, para a votação definitiva.
Temer no trono – Nos bastidores, o Palácio do Planalto tem pressa e trabalha para que o julgamento aconteça ainda no mês de agosto, para que Michel Temer deixe a condição de interino e possa comparecer à reunião do G-20 já como presidente efetivo. O encontro será realizado na China, nos dias 4 e 5 de setembro.
Mas o que preocupa Temer de fato, segundo adversários (principalmente petistas), é a sequência de notícias sobre delações premiadas da Operação Lava Jato envolvendo Temer e alguns de seus ministros – entre eles o presidenciável tucano José Serra, ora titular do Ministério das Relações Exteriores, acusado de ter recebido R$ 23 milhões do esquema da Odebrechet.
Já o presidente interino recebeu, de acordo uma das delações, R$ 10 milhões em dinheiro vivo.
Além disso, governistas temem que a processo de cassação de Cunha seja aprovado na Câmara antes da votação final sobre Dilma, embora haja articulação no sentido contrário. Na avaliação de parlamentares ligados a Temer, o peemedebista pode, uma vez fora do mandato e sem a prerrogativa de foro privilegiado, rebelar-se por ter de ser julgado pelo juiz Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato em primeira instância e conhecido pelo rigor na punição a investigados por corrupção. Assusta o Palácio do Planalto, de acordo com fontes próximas ao presidente interino, a possibilidade de que uma delação premiada de Cunha atinja diversos parlamentares de vários partidos, principalmente o PMDB, além do próprio Temer.