21 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Próximo Governo: Câmara Federal será mais militar e religiosa

Nova composição será a mais conservadora dos últimos 30 anos

A Câmara dos Deputados vai iniciar novo mandato em fevereiro de 2019 com a mais alta taxa de renovação registrada desde as eleições de 1998. Pela primeira vez em duas décadas, os deputados reeleitos vão representar menos da metade das cadeiras da Casa, abrindo espaço para os novatos.

Levantamento feito pela Câmara com base nos dados do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) mostra que, dos 513 deputados que vão tomar posse no ano que vem, 251 foram reeleitos, o equivalente a 48,9% do total. O número considera todos os parlamentares que foram titulares, suplentes ou efetivados em algum momento da atual legislatura.

A renovação política destas eleições mexeu com o perfil da próxima Câmara dos Deputados. Com isso, ela terá um aumento da representação de militares e líderes evangélicos. Por outro lado, professores e médicos terão participação menor.

A guinada conservadora no Congresso, legitimada pelo resultado das urnas, também vai reforçar a atuação das bancadas temáticas conhecidas como “boi, bala e Bíblia”. Estas frentes parlamentares pautadas por interesses do agronegócio, de setores linha-dura da segurança pública e de denominações cristãs ganham força.

Esses grupos encontrarão um cenário diferente do observado nos governos dos últimos presidentes eleitos, Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva, que resistiam ao avanço de temas defendidos por essas bancadas. A gestão de Jair Bolsonaro (PSL) promete ser alinhada à pauta conservadora.

Menos professores

O principal contingente será de empresários e administradores de empresas (135) e advogados (102), que terão quase metade das cadeiras na Câmara, perfil semelhante ao do atual mandato.

Professores, que formam hoje a terceira maior bancada da Casa, com 75 membros, cairão para 47. Médicos vão de 44 para 36. Em linha oposta, líderes evangélicos quase dobraram de tamanho (de 11 para 19) e a bancada de militares, policiais e delegados passará de 19 para 28 cadeiras.

Os números reforçam os cálculos que apontam o fortalecimento das bancadas da bala, evangélica e ruralista, todas alinhadas a Bolsonaro. Os três grupos são os mais orgânicos e atuantes da Câmara.

A bancada da bala vai saltar de 35 deputados na atual legislatura para 61. A evangélica, por sua vez, será ampliada de 75 para 84 membros. Só a atual bancada ruralista conta com 260 deputados inscritos.

Pautas

A bancada evangélica, que declarou apoio político ao presidente Jair Bolsonaro (PSL), apresentou um manifesto com propostas destinadas ao futuro governo. Na área de educação, o grupo defende “libertar a educação pública do autoritarismo da ideologia de gênero, da ideologia da pornografia e devolver às famílias o direito à educação sexual de suas crianças”.

O coordenador da frente parlamentar evangélica do Congresso Nacional, deputado federal Takayama (PSC-PR), afirma que o pensamento de Bolsonaro é alinhado com o grupo. “O que existe é uma convergência de pensamentos e de ideais. A postura dele coincide com os valores da família, com o Brasil de 86,8% de cristãos, então queremos que ele seja o presidente dessa maioria e mantenha os valores da família”.

Não tem como enxergar diferente: a nova composição da Câmara dos Deputados será a mais conservadora dos últimos 30 anos. E o culto ao vivo na TV, puxado pelo não reeleito deputado Magno Malta, na casa de Bolsonaro, dará o tom da nova política do Brasil, um país laico.