28 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Queiroz pagou em dinheiro vivo prestação de apartamento da mulher de Flávio

MP/RJ acusa lavagem de mais de R$ 2,3 milhões na compra de imóveis

 

 

Corrupção: Queiroz é acusado de comprar imóveis com dinheiro público para Flávio Bolsonaro

O policial militar aposentado Fabrício Queiroz depositou R$ 25 mil em dinheiro vivo na conta da mulher do senador Flávio Bolsonaro (Republicanos-RJ), de quem era assessor, uma semana antes de o casal quitar a primeira parcela na compra de uma cobertura em construção na zona sul do Rio de Janeiro.

Dados da quebra de sigilo bancário obtidos pelo Ministério Público do Rio indicam que o depósito, junto com outras movimentações financeiras na conta da dentista Fernanda Bolsonaro, foi feito para dar cobertura ao pagamento da entrada no imóvel.

Entre os outros valores, há também um crédito em espécie de R$ 12 mil realizado por uma pessoa cuja identidade é mantida sob sigilo.

Queiroz é apontado pelo MP-RJ como o operador financeiro do esquema da “rachadinha” no antigo gabinete de Flávio na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro, onde ele exerceu o mandato de deputado entre fevereiro de 2003 e janeiro de 2019.

A suspeita é de que o ex-assessor recolhia parte do salário de alguns assessores para repassá-los ao filho do presidente Jair Bolsonaro.

Preso no mês passado em Atibaia, no interior de São Paulo, Queiroz está atualmente em prisão domiciliar, pedida por sua defesa e concedida pelo presidente do STJ (Superior Tribunal de Justiça), João Otávio de Noronha.

Segundo os dados da investigação da Promotoria, dias antes de a família de Flávio Bolsonaro pagar R$ 110,5 mil de custos pela entrada no apartamento, em agosto de 2011, houve um movimento de créditos na conta de Fernanda para cobrir a despesa futura. O primeiro foi realizado por Queiroz, no dia 1

Dois dias depois, a conta da dentista Fernanda Bolsonaro recebeu R$ 74,7 mil de resgate de aplicações em fundos. No dia 19, há um novo depósito em espécie (feito por pessoa cujo nome não é revelado) na conta da mulher do hoje senador e filho mais velho de Jair Bolsonaro.

Toda a movimentação nesses quatro dias gerou um crédito adicional de R$ 111,7 mil na conta da dentista.

Os gastos com a cobertura começam no dia 19, data do último crédito. Ela primeiro paga R$ 1.610 ao 15º Ofício de Notas, cartório no qual a compra da cobertura na planta foi registrada.

Queiroz, o chefe do esquema das rachadinhas do gabinete de Flávio Bolsonaro

No dia 22, Fernanda tem um cheque de R$ 73.140 compensado. A quebra não identifica o nome da empresa beneficiada, mas se trata da mesma data e valor de pagamento do casal à construtora responsável pelo condomínio Cenário Laranjeiras.

Lavagem de dinheiro foi feita em imóveis

No dia seguinte, outro cheque de R$ 35.770 é compensado em favor da imobiliária Patrimóvel, responsável até hoje pela venda das unidades do condomínio. Em compras de imóveis em construção, é comum o comprador pagar a taxa de corretagem diretamente à imobiliária, debitando o valor do total do pagamento à construtora.

Esse não é o primeiro indício de vínculo entre Queiroz e despesas pessoais da família de Flávio. O MP-RJ obteve, por exemplo, imagens da agência bancária do Itaú na Assembleia Legislativa do Rio mostrando o PM aposentado pagando em dinheiro a mensalidade escolar das filhas do senador em outubro de 2018.

Os promotores suspeitam que a mesma dinâmica ocorreu no pagamento de outros 53 boletos da escola entre 2014 e 2018 feito com dinheiro vivo na boca do caixa. Eles somam R$ 153,2 mil.

O mesmo ocorreu com a mensalidade do plano de saúde da família do senador. Foram 63 boletos pagos em dinheiro entre 2013 e 2014, somando R$ 108,4 mil.

ambém houve uso de dinheiro vivo na compra de mobiliário para outro apartamento do casal e na quitação de débito com uma corretora de valores. Investigadores afirmam que os recursos em espécie usados nas operações do senador têm como origem o esquema da “rachadinha”. O uso de papel-moeda visa dificultar o rastreio do caminho do dinheiro ilegal.

O MP-RJ afirma ainda que há indícios de lavagem de dinheiro por meio da compra de outros dois imóveis pelo casal e na loja de chocolate do senador. Nesses dois casos, o volume é bem maior: R$ 2,3 milhões, segundo os promotores.

Queiroz prestou depoimento na quarta-feira (15) aos promotores do caso, 19 meses após ser notificado pela primeira vez e ter faltado às convocações anteriores. O teor da oitiva é mantido sob sigilo.

O imóvel de Laranjeiras adquirido em 2011 pelo casal também é objeto de um inquérito eleitoral que apura falsidade ideológica pelo senador. A suspeita decorre do fato de ele ter atribuído valores distintos ao imóvel nas declarações de bens entregues à Justiça Eleitoral nos pleitos de 2014 e 2016.

OVIMENTOS NA CONTA DE FERNANDA, MULHER DE FLÁVIO

Entrada em 15.ago.11
R$ 25 mil de depósito em espécie por Fabrício Queiroz

Entrada em 17.ago.11
R$ 74.777,28 de resgate de aplicações em quatro fundos

Entrada em 19.ago.11
R$ 12 mil de depósito em espécie por pessoa mantida sob sigilo

Total de entradas
R$ 111.777,28 em 4 dias

Saída em 19.ago.11
R$ 1.610 para pagamento a cartório por escritura

Saída em 22.ago.11
R$ 73.140 para pagamento a construtora do condomínio

Saída em 23.ago.11
R$ 35.770 para pagamento a imobiliária

Total de saída para entrada em imóvel
R$ 110.520

Nota da Defesa do senador Flávio Bolsonaro:

“Todas essas questões foram esclarecidas nos autos. Os vazamentos de informação, ocorridos diariamente, causam estranhamento na defesa. O processo é sigiloso e os detalhes na imprensa só podem ter sido divulgados por quem tem acesso aos depoimentos. Por esse motivo, a defesa fará uma representação no Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP) para a devida apuração”, afirmou a defesa de Flávio, em nota.

O advogado Paulo Catta Preta, que defende Queiroz, disse que não iria se manifestar porque a investigação corre sob sigilo.

(Por Por Italo Nogueira – Folhapress)