5 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Senado espera Bolsonaro parar ataques para avaliar Mendonça no STF

Demora em colocar em análise a indicação já supera o tempo de espera de todos os dez ministros que ocupam cadeiras hoje no Supremo

Postulante a uma vaga no STF, o então adgogado-geral da União, Andre Mendonça, se curva para melhor agradar seu presidente, Jair Bolsonaro

Na semana passada, Jair Bolsonaro mais uma vez agiu com o fígado e cobrou no Senado federal o impeachment de ministros do STF, Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, por ser alvo de inquéritos e pela prisão do aliado Roberto Jefferson, presidente do PTB.

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O presidente pode até ter jogado para as redes, mas politicamente, mais uma vez, ele saiu prejudicado. Sua falta de diplomacia respinga exatamente na condução de sua escolha para uma vaga no STF e com isso a sabatina de André Mendonça à corte segue na gaveta.

A única chance de o clima melhorar para destravar a sabatina de Mendonça, segundo pessoas próximas do senador Davi Alcolumbre, é se Bolsonaro baixar o tom do discurso, cessar os ataques a parlamentares e ao Supremo e dar sinais claros de que não provocará mais fissuras entre os Poderes.

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Desde que o presidente oficializou o nome do ex-advogado-geral da União para ocupar a vaga deixada por Marco Aurélio Mello, em julho, Alcolumbre, ex-presidente do Senado, trabalha para que Mendonça não seja aprovado.

A estratégia do senador é postergar a sabatina pela qual o ex-ministro do governo deverá passar na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e tentar emplacar no seu lugar o procurador-geral Augusto Aras. Ele, por sua vez, aguarda a sua própria sabatina no Senado após ter sido indicado por Bolsonaro para mais dois anos na chefia da PGR (Procuradoria-Geral da República).

Alcolumbre é entrave

Alcolumbre relatou a aliados ter ficado chateado com a pressão que bolsonaristas fizeram nas redes sociais para que ele colocasse em votação na CCJ do Senado uma PEC (proposta de emenda à Constituição) que estabelecia o voto impresso no Brasil, após o assunto ter sido rejeitado pela Câmara.

Pessoalmente, Alcolumbre culpa Bolsonaro por não ter se empenhado o suficiente para resolver o problema do apagão que acometeu o Amapá no ano passado, contribuindo para a derrota de Josiel Alcolumbre (DEM), seu irmão, que disputava a Prefeitura de Macapá.

A demora em colocar em análise o nome de Mendonça já supera o tempo de espera de todos os dez ministros que ocupam cadeiras hoje no Supremo. Nenhum esperou mais de oito dias entre a indicação presidencial e o início da tramitação no Senado.

A expectativa agora, entre aliados do indicado ao STF, é que a sabatina ocorra em outubro. A CPI da Covid acaba em 16 de setembro, e, com isso, Alcolumbre consegue retomar os holofotes no Senado.

Aliados do senador, no entanto, avaliam que dificilmente a sabatina ocorrerá antes de novembro. Isso só seria possível se houvesse uma mudança nos rumos do discurso e sinalizações de Bolsonaro.