7 de outubro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Vaiado no Senado, ministro Salles se retira de sessão sobre meio ambiente

Ele é responsável por cuidar do meio ambiente “sem ideologia” , favorecendo pecuaristas e favorável à exploração da Amazônia e liberação de agrotóxicos

Responsável por cuidar do meio ambiente “sem ideologia” e favorecendo pecuaristas e favorável à exploração da Amazônia, o ministro Ricardo Salles (Meio Ambiente) foi vaiado hoje no Senado enquanto discursava durante sessão solene para homenagear o meio ambiente.

Ele se retirou do plenário. Antes, o público que acompanhava o ato (ativistas ambientais, povos indígenas, representantes da sociedade civil, entre outros grupos) virou de costas para o ministro enquanto ele falava.

O chefe da pasta minimizou a reação do público. “A democracia é assim, cada um pode ter a reação que quiser”, disse ele, constrangido. Salles foi vaiado pela primeira vez ao tentar, em discurso, justificar o que tem sido apontado como um “desmonte” na pasta.

Segundo ele, não houve enfraquecimento da fiscalização ambiental, e sim uma mudança de “gestão” buscando eficiência na aplicação de recursos. “O desmonte foi herdado de gestões anteriores”, declarou ele, em referência aos governos do PT. “Desmonte houve antes, não agora.”

Na presença da procuradora-geral da República, Raquel Dodge, que também participa do evento, o parlamentar declarou cogitar, inclusive, um pedido de impeachment de Salles. Para ele, ao faltar com a verdade no Senado, ensejaria crime de responsabilidade. Raquel não se pronunciou.

Mudanças climáticas e polêmicas

O Ministério do Meio Ambiente praticamente eliminou o orçamento para implementar políticas sobre mudanças climáticas no Brasil. A pasta realizou um bloqueio de 95% dos R$ 11,8 milhões do programa.

Esta é a principal medida que bate com a iniciativa do presidente Jair Bolsonaro de retirar o país do Acordo de Paris, que estabelece metas para limitar o aquecimento global.

Bolsonaro havia desistido da saída imediata, mas a política é a mais atingida da pasta, que sofreu um corte total de R$ 187,4 milhões imposto pela equipe econômica. O montante equivale a 22,7% do valor total do orçamento não obrigatório do Ministério do Meio Ambiente, de cerca de R$ 825 milhões.

O ministro Ricardo Salles cancelou há um mês um tour que faria por países europeus com participação em eventos, entrevistas para canais de TV e encontro com autoridades.

Pessoas próximos do governo atribuem o cancelamento à repercussão negativa de uma carta assinada por 602 cientistas europeus e publicada na revista Science no mês passado, em que pediam o condicionamento de negócios europeus com o Brasil a compromissos com a redução do desmatamento e dos conflitos com povos indígenas no país.

Questionado sobre a possibilidade de o Brasil sofrer impactos econômicos, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, respondeu: “nós não vamos ser pautados por artigo de revista nenhuma”.

Criminoso

O ministro de Meio Ambiente foi acusado pelo Ministério Público Federal (MP), de abuso de poder econômico e uso indevido de meios de comunicação nas eleições de 2018. Com isso, ele pode ficar inelegível por oito anos.

Ricardo Salles foi candidato pelo partido Novo, à deputado federal, e não conseguiu se eleger, mas ocupa a primeira suplência para o cargo. Esta nova acusação se soma à ação de improbidade administrativa por suspeita de ocultação de alterações em mapas de zoneamento ambiental do rio Tietê, quando secretário de Meio Ambiente do governo de São Paulo na gestão de Geraldo Alckmin (PSDB).

Nas eleições, ele comprou espaço para 13 anúncios no jornal O Estado de S.Paulo ao custo de R$ 260 mil, entre 30 de maio e 22 de julho deste ano. Segundo o TSE (Tribunal Superior Eleitoral), a propaganda eleitoral era permitida a partir de 16 de agosto. Portanto, o fez de forma antecipada.

As propagandas foram consideradas “de propaganda institucional da pessoa jurídica ‘Movimento Endireita Brasil’ (que ele fundou e preside), com presença de fotografias, assinatura e nome do futuro ministro em todas elas.

Curiosamente, entre os exemplos de coincidência de suas propostas políticas estão: tolerância zero em relação à criminalidade, privatizações e combate à “velha política”.

E mais preocupante do que o crime eleitoral foi a mensagem forte que ele passava em seus conteúdos de campanha. Numa das peças, Salles dizia que balas de fuzil seriam soluções para javalis, bandidos no campo, MST e a esquerda de forma geral.

O partido Novo, após a repercussão do caso, afirmou que “não compactua com qualquer insinuação ou apologia à violência”. A sigla também disse que fez orientações ao então candidato e que não aprovava a mensagem contida na propaganda.