Por Osvaldo Epifânio (Pife)
Hoje partiu sem nossa autorização a terceira pessoa da santíssima trindade da narração esportiva do rádio alagoano: o Arivaldo Maia. Junta-se, novamente, ao Sabino Romariz e ao Reinaldo Cavalcante.
Eles estabeleceram uma união perfeita para os nossos ouvidos nas tardes de domingo. O eco de suas vozes operava a divina imaginação do futebol jogado dentro de uma caixinha de pilha. E isso nos deixava paralisados com o coração acelerado, aos trancos.
Era o percurso do princípio e do fim na sagrada comunhão com a fluência verbal e a maldade. Sim, eles não tinham complacência com nossas almas de torcedores. Ficávamos atônitos, com a garganta pesada, com os olhos tontos e com os segundos maldosos à espera do gol. Às vezes, ele não vinha, mas já tínhamos morrido de emoção, quase jogando o radinho na Lagoa Mundaú.
Quando a bola jogada pelos pés do terrível adversário destruidor de sonhos sacudia as redes, ou quando o chute santo de um deus alterava o placar, mesmo assim, a santíssima trintade nos enchia de beleza, de choros e de pulos. E nossa alma levantava o corpo sobre o Trapichão ou nos fazia sentar sobre o batente duro da arquibancada em torrentes lágrimas de melancolia. Apertávamos o aparelhinho nos ouvidos como quem abraçasse o Rei, o Sabino e o Ari.
Eles eram a nossa santíssima trindade porque pertenciam à mesma substância: eram brincantes da imaginação. Até mesmo com os olhos no campo, numa tarde ardente, no apertado espaço dividido entre uma gente que cantava e a arena gramada, a santíssima trintade conseguia nos colocar na fantasia. – Ora, estávamos vendo tudo naquele campo e o Rei, o Sabino e o Ari, mesmo assim, nos maltratavam com o devaneio.
“Quando o sinal do tempo marcava” (Rei).
“Abra mão e conte comigo” (Sabino).
“A bola corre com o tempo” (Ari).
Nossos ouvidos nunca mais serão os mesmos.
Grande e merecida homenagem, parabéns pelo texto professor.