28 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Vídeo: Vereador bolsonarista diz que “baianos preguiçosos” não servem como escravos

“Única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor, era normal que se fosse ter esse tipo de problema”, disse Sandro Fantinel (PATRIOTA)

Foram encontrados mais de 200 trabalhadores baianos em situação análoga à escravidão no Centro da Indústria, Comércio e Serviços, de Bento Gonçalves. Três deles denunciaram os crimes à PRF. Um vereador bolsonarista chamado Sandro Fantinel (Patriota), não gostou nada disso.

Em sessão na Câmara de Vereadores de Caxias do Sul, nesta terça-feira (28), Fantinel disse a solução seria, não o fim do trabalho escravo, mas o fim da contratação da “gente lá de cima” para evitar novos problemas trabalhistas.

“O patrão vai ter que pagar empregada para fazer limpeza para os bonitos todos os dias também? É isso que vai ter que acontecer? Temo (sic) que botar eles em hotel cinco estrela (sic) para não ter problema com o Ministério do Trabalho? Não contratem mais aquela gente lá de cima. Conversem comigo, vamos criar uma linha e vamos contratar os argentino”.

O bolsonarista foi além e se referindo baianos escravizados disse que eles não estão acostumados a trabalhar.

“Com os baiano (sic), que a única cultura que eles têm é viver na praia tocando tambor, era normal que isso fosse acontecer. Que isso sirva de lição, deixem de lado aquele povo que é acostumado com carnaval e festa para vocês não se incomodar (sic) novamente”.

Pronntamente, o deputado estadual Leonel Radde (PT-RS) registrou um Boletim de Ocorrência contra Fantinel. Horas depois, preocupado com a repercussão negativa, o bolsonarista Fantinel disse, de forma esperada, que foi “mal interpretado” e que deu as declarações “no calor da discussão”.

Além de pedir à Câmara para retirar sua fala dos anais, ele reforçou que foi “um pouquinho infeliz no calor da fala”. Disse ainda o clichê de desculpas afirmou não ter nada contra os baianos: “tenho amigos e primos que moram no nordeste, na parte mais norte do país”. Fechou com chave de ouro afirmando que “adora as praias de lá”.

MPF

Sandro Fantinel defendeu que os acontecimentos envolvendo trabalhadores encontrados em situação análoga à escravidão em Bento Gonçalves (RS) são “exagerados” e “midiáticos”.

O Ministério Público do Trabalho deflagrou operação que encontrou trabalhadores alojados em uma pousada em Bento Gonçalves, cidade vizinha de Caxias do Sul. Os homens saíram da Bahia com promessa de emprego, alimentação e hospedagem, mas foram alimentados com comida estragada e submetidos a ataques com máquina de choque e spray de pimenta.

Eles foram explorados pela empresa Oliveira & Santana, que prestava serviços para as vinícolas Aurora, Salton e Cooperativa Garibaldi. Uma entidade empresarial da região relacionou as condições análogas à escravidão a políticas de assistência social e à falta de mão obra na Serra Gaúcha.

Após o resgate dos trabalhadores na quarta-feira passada, o Ministério dos Direitos Humanos e Cidadania marcou, para 13 de março, uma reunião da Comissão Nacional de Erradicação do Trabalho Escravo.

A PRF resgatou 207 pessoas em situação análoga a escravidão em Caxias do Sul (RS). Foto: Divulgação/Governo da Bahia

Empresa

Em nota, no sábado (25), o CICBG explicou que vem acompanhando o caso. O Centro apontou que as autoridades precisam “cumprir o seu papel fiscalizador e punitivo para com os responsáveis por tais práticas inaceitáveis”, mas disse que “é preciso resguardar a idoneidade do setor vinícola”.

No fim da nota, porém, o centro criticou o assistencialismo e disse ser preciso trabalhar em projetos e iniciativas que ajudem a “suprir, de forma adequada, essa carência de mão de obra”. E teve a audácia de culpar programas assistenciais, como o Bolsa Família

Há uma larga parcela da população com plenas condições produtivas e que, mesmo assim, encontra-se inativa, sobrevivendo através de um sistema assistencialista que nada tem de salutar para a sociedade”