1 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Whatsapp: Registros de envios foram apagados por campanha de Bolsonaro

Fontes confirmam que candidato do PSL usou números de terceiros, o que é ilegal segundo o TSE; Contatos foram comprados ilegalmente; PT usou números próprios para envio de Whatsapp

Após a denúncia de que empresários bancam uma campanha contra o PT, pelo Whatsapp, e que ficou conhecida como o Caixa 2 de Bolsonaro, novas indícios chegaram ao conhecimento, principalmente, da Folha, primeira a fazer a descoberta.

Agora, dados revelam que foram apagados os registros de envio de mensagens disparadas pela campanha de Bolsonaro, curiosamente horas depois da denúncia. Aalém da campanha de Jair Bolsonaro (PSL), a de Fernando Haddad (PT) também fez uso da mesma plataforma digital. Entretanto, a campanha do PSL utilizou contatos de forma irregular.

A agência usada pelas duas é a Yacows, que oferece um serviço de disparos de mensagens em massa pelo WhatsApp. A AM4, que inicialmente negou, admitiu pela primeira vez que usou um serviço desse tipo, criado pela Yacows. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e a PGR (Procuradoria-Geral da República) abriram investigação sobre o caso após a denúncia inicial.

Arquivos deletados

Através de um acesso a registros da AM4 no serviço de mensagens, chamado Bulk Services, os dados mostram que as informações referentes às campanhas foram apagadas no sistema. Isso tudo foi confirmado por uma fonte da própria AM4, que pediu anonimato.

O presidente interino do PSL e coordenador da campanha do capitão reformado, Gustavo Bebbiano, descartou que a campanha de seu partido tenha usado a ferramenta durante as eleições e negou qualquer vínculo com a Yacows.

Com sede no Rio de Janeiro, a AM4 aparece na prestação de contas da campanha de Bolsonaro como responsável pela criação do site da candidatura e outras ações em mídia digital, pelas quais recebeu R$ 115 mil declarados ao TSE.

A empresa tem cadastro como cliente do sistema Bulk com ações registradas desde pelo menos o dia 25 de setembro e, de acordo com os dados, o login de usuário no sistema está em nome de uma funcionária da AM4, cujo nome foi confirmado à reportagem pela empresa. Em uma das listas de contatos apagadas estavam registrados pouco mais de 8.000 números de telefone.

Uma das mensagens apagadas dizia respeito a pedidos de doação para a campanha do candidato do PSL.

Números ilegais

Duas fontes  trabalharam na empresa Quick Mobile, com sede em Minas Gerais. Assim como a Yacows, a atuação da Quick Mobile também passou a ser investigada pela Polícia Federal. Uma das pessoas ouvidas pela reportagem afirma que cadastrou a campanha de Bolsonaro no sistema da empresa. A outra disse que a companhia usava bases de dados compradas ou “hackeadas”.

“Eu fiz o cadastro para ele (Bolsonaro). Peguei email, senha e acrescentei créditos. Eu colocava créditos de 1 milhão de disparos”, disse a fonte que pediu sigilo por temer represálias.

Pela importância do cliente, quem ficava encarregado disso era um dos sócios da empresa, Leandro Nunes. “Eu nunca subi campanha do Bolsonaro. Quem subia, sempre no sábado ou no domingo, era o Leandro Nunes”, disse.

Já uma das fontes resolveu se identificar. “Eles não eram transparentes em relação a isso. A informação que eu tinha é que eles compravam essas bases de terceiros. Sem nenhuma transparência”, disse Jussara Pereira.

Ela diz ainda que a Quick Mobile também utilizava um programa para “garimpar” números de telefones que estivessem disponíveis em redes sociais. Com isso, era possível, posteriormente, segmentar os disparos por região geográfica e até por hábito de consumo.

De acordo com a legislação eleitoral e com a nova lei de proteção de dados, candidatos e partidos políticos não podem utilizar bases de dados de terceiros para fazer campanha.

O coordenador da campanha de Bolsonaro, Gustavo Bebbiano, negou que a candidatura presidencial do PSL tenha usado disparos de mensagens em massa pelo WhatsApp. “Nunca. Na nossa campanha, não”, declarou. Ele afirmou ainda que quem utiliza essa ferramenta é o PT.

PT usou números próprios

Pessoas ligadas à campanha petista confirmam que a agência de marketing contratada por eles usou serviços da Yacows, mas negam que tenham usado qualquer lista de contatos que não fosse do próprio PT.

“Temos milhões de contatos no cadastro ativo do PT em todo Brasil, nunca iríamos correr o risco de fazer uma besteira dessa por causa de uma lista com cem mil números. Não faz sentido”, disse um contratado pela campanha petista, que pediu sigilo.

A agência de comunicação digital Um Por Todos encaminhou nota onde afirma que foi contratada pela agência M Romano, relacionada na prestação de contas oficial da campanha petista no TSE como tendo recebido ao todo R$ 4,814 milhões (para fazer a campanha na TV, rádio e internet), para envio de mensagens com informações para os filiados do PT.

Por meio de nota, a campanha do PT negou irregularidades: “A M.Romano contratou a empresa Um Por Todos Digital para efetivar disparos de WhatsApp na base de dados cedida pelo PT, formada apenas por filiados da sigla, conforme a lei eleitoral. Os relatórios referentes a estes serviços foram apresentados pela Um Por Todos Digital sem qualquer indício de irregularidade.”.