20 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

YouTube e Facebook permitem espalhar desinformação eleitoral no Brasil, afirma GW

Global Witness produziu e retirou anúncios propositalmente enganosos que foram todos aprovados pelo YouTube e metade pelo Facebook

Tradução do The Guardian

O YouTube e o Facebook estão permitindo a disseminação de desinformação sobre a campanha eleitoral do Brasil, piorando a situação de uma eleição já polarizada e violenta, de acordo com um novo relatório da organização de direitos humanos Global Witness.

A ONG produziu uma série de anúncios propositalmente enganosos durante uma temporada eleitoral, que foi dominada pela acusatória disputa entre o atual titular de extrema-direita Jair Bolsonaro (PL) e seu adversário de esquerda, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Alguns dos anúncios simulados incentivam pessoas a não votar; outros, como o próprio Bolsonaro, questionaram a credibilidade da eleição; e alguns deram uma data falsa para a votação.

O YouTube aprovou todos eles e o Facebook aprovou metade, disse a Global Witness, embora tenha enfatizado que retirou os anúncios antes de serem publicados para evitar confusão.

“É francamente chocante que essas grandes empresas com a proeza tecnológica que claramente possuem, sejam incapazes de eliminar uma desinformação tão flagrante que está sendo empurrada para seus usuários”. Jon Lloyd, consultor sênior da Global Witness.

“Se já não era óbvio, agora deveria ser inegável até mesmo para o maior cético – as empresas de mídia social estão falhando fundamentalmente em sua responsabilidade de impedir que os processos democráticos sejam prejudicados por enganos falsos, enganosos e propositais”, completou Lloyd.

O grupo disse que o Facebook aprovou todos os seus 11 anúncios no final de julho e início de agosto, dois meses antes das eleições do primeiro turno.

Metade dos anúncios foram aprovados em um segundo teste um mês antes da votação e a mesma quantidade foi aprovada depois que Lula venceu a eleição de primeiro turno com 48,4% contra 43,2% de Bolsonaro. Alguns dos anúncios que passaram nos testes do Facebook, no entanto, foram rejeitados em testes anteriores, disse a Global Witness.

Essa última onda, realizada entre 11 e 13 de outubro, foi expandida para incluir o YouTube “e todos os anúncios testados foram aprovados pela plataforma de propriedade do Google”, incluindo alguns fornecendo informações falsas alegando que a votação do segundo turno estava sendo adiada de 30 de outubro para o dia 31.

Um porta-voz do Meta disse que investe “recursos significativos” para proteger as eleições e rejeitou 135.000 envios de anúncios relacionados ao Brasil entre 16 de agosto e 30 de setembro.

“Esses relatórios foram baseados em uma amostra muito pequena de anúncios”, disse sobre os envios da Global Witness, “e não são representativos, dado o número de anúncios políticos que revisamos diariamente em todo o mundo”.

O YouTube disse que “analisou os anúncios em questão e removeu aqueles que violavam nossas políticas”, embora o relatório da Global Witness mostre que todos os anúncios enviados foram aprovados pelo site de propriedade do Google.

Mentiras

A eleição deste ano é uma das mais duras da história do Brasil, colocando o titular de extrema-direita contra seu inimigo que governou por dois mandatos entre 2003 e 2010.

Está sendo, como grande parte do mandato de quatro anos de Bolsonaro, marcada por acusações e mentiras, com ambos os lados sendo acusados ​​de promover notícias falsas.

A extrema-direita tem sido particularmente culpada, e especialistas do Netlab, um centro de estudos sociais e de internet do Rio, disseram que as campanhas de desinformação estão mais complexas do que nunca este ano, com vários atores e bots espalhando mensagens coordenadas de mentiras em diferentes plataformas no mesmo tempo.

“Existe um ecossistema de notícias falsas que são compartilhadas em segundos”, disse a diretora da Netlab, Marie Santini. “Quando você recebe a mesma mensagem de várias fontes diferentes ao mesmo tempo, sente que é legítimo.”

Esta semana, o tribunal eleitoral do Brasil disse ao YouTube, Twitter e Google para derrubar dezenas de sites ou postagens de apoio a Bolsonaro e disse que a campanha de desinformação da extrema-direita foi “prejudicial a Lula” e teve “repercussões significativas e efeitos persistentes”.

Justiça

Para combater esse cenário, ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovaram por unanimidade, ontem (20), resolução que aumenta o poder de polícia da Justiça Eleitoral.

A intenção é possibilitar que medidas mais duras e ágeis sejam tomadas contra as fake news nesta reta final das eleições gerais de 2022. De acordo com o presidente da Corte, ministro Alexandre de Moraes, é uma medida de enfrentamento à desinformação.

Pela resolução, assim que comunicadas pela Justiça Eleitoral, as plataformas devem fazer a imediata remoção das URLs, URIs ou URNs consideradas irregulares, sob pena de R$ 100 mil por hora após a determinação de retirada de desinformação das redes. O prazo máximo a partir de agora é de duas horas. Às vésperas da eleição, será de uma hora.

Mundial

Especialistas dizem que o Brasil não está sozinho ao enfrentar esses desafios online à democracia. Em todo o mundo, os impérios de mídia social permitiram que maus atores influenciassem as urnas por meio de bots, fazendas de notícias falsas e supervisão frouxa e é um problema que é pior fora do mundo de língua inglesa.

“É preciso investir não apenas em tecnologia de IA capaz de entender o português brasileiro, mas também em moderadores brasileiros qualificados para filtrar a desinformação”, disse Santini. “E eles não querem fazer isso porque é caro.”

“Mas também é negligência. Eles não acham que isso importa porque é o Brasil. Os acionistas do Facebook e do Google estão nos EUA, não aqui.”