O 1º debate entre os candidatos à Presidência da República teve clima morno e manteve os adversários em suas zonas de conforto. O debate foi realizado na Band.
Um dos poucos momentos de alteração entre os políticos foi durante pergunta de Guilherme Boulos (Psol) para o deputado federal Jair Bolsonaro (PSL). Além de um breve bate-boca entre Bolsonaro e Ciro Gomes (PDT). Aliás, se houvesse um vencedor este seria o ex-governador do Ceará.
Boulos questionou Bolsonaro sobre as acusações de que teria funcionários fantasmas e o fato de receber auxílio-moradia mesmo tendo imóvel próprio em Brasília. Boulos foi, de fato, uma novidade que tirou bom proveito do debate.
“Está na lei [o direito ao auxílio]. Imoral seria invadir apartamentos”, disse, em referência ao MTST (Movimento de Trabalhadores Sem Teto), liderado pelo candidato do Psol.
JAIR BOLSONARO (PSL)
O líder nas pesquisas nos cenários que não consideram a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) concentrou grande parte das críticas dos adversários. Bolsonaro foi chamado de “racista, machista e homofóbico” por Boulos e foi questionado por jornalistas sobre o recebimento de auxílio-moradia.
O deputado voltou a ser questionado sobre o retorno do crescimento da mortalidade infantil no Brasil. Diferentemente do que afirmou ao Roda Viva, quando creditou o aumento a problemas como a falta de higiene bucal das mães, Bolsonaro afirmou que “a principal causa é a falta de saneamento”.
Bolsonaro disse ainda que será 1 presidente que deixará para traz “o comunismo e o socialismo” e que não dividirá a população entre “homos e héteros”, “pretos e brancos”.
GERALDO ALCKMIN (PSDB)
Alckmin foi cobrado pela aliança com o Centrão, grupo de partidos políticos com forte presença no Congresso e conhecido por se aliar a diferentes correntes ideológicas de maneira a conseguir compor o governo vencedor.
O tucano afirmou que a aliança será importante para conseguir ter a maioria no Legislativo, necessária para aprovar reformas estruturantes, entre elas da Previdência, tributária, do Estado e política.
Alckmin focou o discurso em propostas voltadas para a recuperação do emprego, renda e investimento no país. Afirmou que pretende reverter a arrecadação do Pasep e Cofins das empresas de saneamento para o investimento em tratamento de água e esgoto.
Defendeu a reforma trabalhista aprovada no governo Michel Temer e negou que se eleito acabaria com o Bolsa Família. “O Bolsa Família é a junção da rede de proteção social do PSDB, que criou o Bolsa Escola, o Bolsa Saúde e o Vale Gás. Corretamente o governo [de Lula, do PT] unificou os 3 e criou o Bolsa Família”, disse.
“Vamos até ampliar o bolsa família. Vamos usar o Bolsa Banqueiro para ajudar a expandir os programas de natureza social“, afirmou.
CIRO GOMES (PDT)
Também ressaltando propostas no plano econômico, Ciro afirmou que pretende criar 2 milhões de empregos em seu 1º ano de governo. “O caminho é consertar os motores do desenvolvimento, que estão estrangulados. Hoje temos 63 milhões de pessoas com divida no SPC, vou ajudar as pessoas a pagarem as dívidas”, disse.
“Vou consertar as contas públicas começando pelas 7 mil obras paradas pelas mais diversas razões, todas burocracias. Isso emprega rapidamente pessoas com dificuldade de qualificação”, afirmou.
MARINA SILVA (REDE)
“Para quem terá pouquíssimos segundos [de tempo de TV], foi uma oportunidade de falar aos brasileiros”, disse a criadora da Rede.
Marina defendeu mais inclusão na educação e lembrou ter sido analfabeta até os 16 anos. “A educação faz diferença. Eu sou prova viva disso. Fui alfabetizada aos 16 anos e hoje sou professora de história da Universidade Federal do Acre”, disse. “Queremos fazer da educação uma prioridade para que ninguém entre por uma fresta, como tive de entrar.”
Questionada sobre o aborto, Marina defendeu a legislação atual. Caso surjam propostas de alteração, disse, defende que sejam submetidas à população por meio de plebiscito. A candidata ainda afirmou que o aborto não deve ser “advogado como método contraceptivo”.
ALVARO DIAS (PODEMOS)
O ex-governador do Paraná ressaltou a importância do espaço para as mulheres na política. Ressaltou os cargos exercidos pela presidente de seu partido, Renata Abreu, e pela coordenadora de seu plano econômico, Ana Paula Oliveira. “Não basta defendermos os direitos das mulheres”, disse. “É preciso protagonismo, estratégia de participação política.”
Quando questionado sobre propostas para emprego, Alvaro Dias afirmou que convidará o juiz Sergio Moro para ser seu ministro da Justiça. O anúncio não é novidade e tem sido reforçado por Dias durante os eventos que participa.
HENRIQUE MEIRELLES (MDB)
Praticamente ignorado durante todo o debate, Meirelles teve dificuldades em expor seu plano de governo. Os adversários evitaram questionar o ex-ministro da Fazenda e as perguntas giraram em torno de sua atuação no governo de Michel Temer.
Meirelles voltou a buscar o reforço de uma imagem acima da política partidária, relembrando em diversos momentos ter atuado como presidente do Banco Central durante o governo do ex-presidente Lula. “Em 8 anos criamos 10 milhões de empregos. A solução é muito simples: ao contrário do que muitos pensam, não se cria emprego no grito”, disse. “Se cria com política econômica correta, a confiança aumenta e o Brasil vai gerar emprego.”
Em mais de 1 momento, Meirelles criticou a falta de conhecimento dos adversários em economia.
GUILHERME BOULOS (PSOL)
Os principais alvos do psolista foram Bolsonaro, Alckmin e Meirelles. Boulos afirmou que Meirelles era banqueiro e não era o único representante de Michel Temer no debate. “Temos 50 tons de Temer”, disse.
O líder do MTST afirmou que, se eleito, pretende revogar a reforma trabalhista e impedir que a reforma da Previdência avance. “Vamos retomar o investimento público com programa “Levanta, Brasil”. Para isso, vai ter que mexer no privilégio dos mais ricos”, disse. “Vamos fazer uma reforma tributária. O trabalhador e a classe média é que sustentam esse Brasil.”
CABO DACIOLO (PATRIOTA)
Coube ao candidato do Patriota parte dos momentos mais cômicos do debate. Exaltado, Daciolo questionou Ciro Gomes (PDT) sobre o Foro de São Paulo e a Ursal, afirmando fazer parte de uma tentativa de Nova Ordem Mundial. O pedetista negou ligações com os grupos. “A democracia é uma delícia, mas ela tem certos custos”, respondeu, em tom irônico.
Daciolo afirmou que, se eleito, pedirá a auditoria da dívida pública. A frase mais repetida pelo candidato foi “glória a Deus”, com a qual iniciou e terminou a maioria de suas perguntas e respostas. Em sua fala final, sacou a Bíblia para ler uma passagem.
(Com poder360)