10 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Bolsonaro pede que seus extremistas não levem cartazes ao “protesto de apoio”

Ex-presidente tenta se esquivar da responsabilidade de inflamar gado eleitoral, ao mesmo tempo que teme ser preso por suas ações golpistas

O ex-presidente Jair Bolsonaro convocou um um ato na avenida Paulista para o próximo dia 25 de fevereiro, para que seus seguidores o apoiem. Bolsonaro, já inelegível para as eleições presidenciais de 2026, viu seu entorno ser alvo da Polícia Federal na semana passada, em ações autorizadas pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes.

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No entanto, para os protestos dessa vez, Bolsonaro afinou. Ou, ao menos, tirou sua responsabilidade da reta ao pedir que seus apoiadores não levarem faixas ou cartazes “contra quem quer que seja”.

“Eu peço a todos vocês que compareçam trajando verde e amarelo. E, mais do que isso, não compareçam com qualquer faixa ou cartaz contra quem quer que seja. Nesse evento eu quero me defender de todas as acusações que têm sido imputadas à minha pessoa nos últimos meses. Mais do que discurso, (quero) uma fotografia de todos vocês (…) para mostrarmos para todo o Brasil e para o mundo a nossa união, as nossas preocupações, o que nós queremos: Deus, pátria, família e liberdade”.

Há pelo menos três motivos para esse pedido de Bolsonaro. O mais óbvio de todos é o de tentar mostrar o discurso apaziguado de seus extremistas, bem diferente das mensagens de ódio anteriores, como as que incitavam violência contra opositores, além de pedidos de Golpe de Estado. Outro motivo óbvio é o medo que Jair tem de ser preso por incitar seus golpistas.

O último motivo, esse menos óbvio e mais matreiro, é o de se esquivas de qualquer responsabilidade pela atitude de seus seguidores. Tentando ignorar todos os anos em que inflamou a população com discursos de ódio contra negros, mulheres, toda população LGBTQIA+ e opositores, Bolsonaro quer fingir agora que nunca agiu, falou ou incentivou de qualquer forma que inflamasse seus eleitores extremistas.

Resta saber se o ex-presidente vai se controlar quando estiver com o microfone na mão, diante de seu gado.

O ato, marcado para o dia 25, contará com um trio elétrico alugado por ninguém menos que o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. Se dizendo homem de Deus, Malafaia constantemente compartilha vídeos em que grita com ódio visceral palavras de ordem contra aqueles que atingem Bolsonaro – especialmente Moraes.

Sendo assim, diante de toda a situação que Bolsonaro espera provocar na Paulista no dia 25, ao lado de familiares e apoiadores do núcleo ideológico, é para sue próprio bem que ele consiga se segurar e não fale besteira demais.

O problema é que se tratando de Bolsonaro com um microfone diante de seu gado (ele espera pelo menos 500 mil pessoas), a besteira é garantida.

Jair Bolsonaro em discurso de 2020, que ele quer que seja esquecido. Foto: Pedro Ladeira