20 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
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Chile em chamas: Com modelo idealizado por Guedes, protestos deixam mortos e Exército nas ruas

Tida como exemplo e modelo desejado ao Brasil para Paulo Guedes, o ministro da Economia do governo Bolsonaro, a economia neoliberal chilena sucumbiu

Tida como exemplo e modelo desejado ao Brasil para Paulo Guedes, o ministro da Economia do governo Bolsonaro, a economia neoliberal chilena sucumbiu diante de violentíssimos distúrbios, não só em Santiago como também em outras cidades.

Sete pessoas morreram durante os protestos, segundo o ministro do Interior chileno, Andrés Chadwick. Duas pessoas morreram no incêndio em um supermercado durante a madrugada.

O prédio da Companhia Elétrica chilena foi tomado pelas chamas

Outro incêndio, em uma fábrica na periferia da capital, deixou cinco mortos. Porém, na manhã desta segunda, o jornal “El Mercurio” já falava em 10 mortos.

A capital chilena viveu o terceiro dia de distúrbios no domingo (20) com confrontos violentos entre manifestantes e forças de policiais. Os protestos pela suspensão do aumento nas passagens de metrô seguiram mesmo após o presidente Sebastián Piñera anunciar no sábado (19) sua revogação.

Foto: Esteban Felix/AP

Saques e destruição

Os saques ao comércio se estendem por vários pontos de Santiago. Segundo a agência AFP, os grandes supermercados permanecem fechados e grupos de pessoas forçam a entrada.

Imagens que circulam nas redes sociais mostram como pessoas, na maioria, jovens, forçaram os acessos a um supermercado da rede Jumbo, e outro da rede Lider, em Peñalolén, levando televisões, roupa e outros acessórios. Situações parecidas aconteceram em outros bairros de Santiago.

Semáforos foram derrubados, há carcaças de ônibus queimados pelas ruas e até mesmo o prédio da empresa responsável pela distribuição elétrica foi atacado em uma Santiago que vive um cenário de destruição, após os protestos iniciados na sexta-feira com o aumento do preço da passagem do metrô.

De acordo com o governo, 78 estações foram atingidas e algumas ficaram completamente destruídas.

Linha do tempo

Na noite de sábado (19), manifestantes atacaram vidraças de prédios, destruíram semáforos, queimaram ônibus e invadiram e incendiaram um supermercado. Tudo isso começou depois que o Governo anunciou um aumento de 30 pesos na tarifa do metrô, equivalente a 20 centavos de real.

A violência aumentou nos protestos a partir de sexta (18), após confronto com a polícia e o Chile decretou no sábado “Estado de Emergência” e o Exército foi às ruas pela 1ª vez desde a ditadura.

Foto: Reuters/Rodrigo Garrido

Apesar do toque de recolher ter sido decretado e da mobilização de 9.500 militares nas ruas, os distúrbios prosseguiram durante a madrugada em Santiago e outras cidades, como Valparaíso e Concepción, que também foram afetadas pela medida que restringe a movimentação.

Voos estão suspensos

O presidente chileno suspendeu o aumento na tarifa do metrô, mas os protestos seguiram. O metrô de Santiago está fechado e o aeroporto da capital chilena tem voos suspensos. Na escalada, mais regiões do país terão toque de recolher, estado de emergência dura 15 dias e aulas são canceladas.

Economia chilena

O aumento do preço da passagem do metrô foi apenas estopim de uma crise econômica muito mais profunda e cujas sementes estão no mesmo tipo de política que se pretende aplicar no Brasil, visando à valorização dos ativos financeiros, através da deflação e da redução dos benefícios aos mais pobres, aumentando a parcela da economia reservada para a concentração de renda e riqueza.

Tudo em nome do mercado.

Mas as evidências de rachaduras no modelo chileno já vinham de longe. A qualidade da educação já vinha caindo e o modelo absurdo e fracassado de capitalização na previdência produziu legiões de idosos sem renda. O Chile, sob a capa de uma economia pequena e menos complexa, continua sendo um país pobre e com largas fissuras sociais.

Bolsonaro e sua equipe econômica davam o Chile de Sebastián Piñera como modelo a ser seguido

Em visita ao Chile, em março, o presidente Jair Bolsonaro voltou a defender a reforma da Previdência no Brasil dizendo que o governo se inspira no modelo de aposentadorias.

“Nós é que estamos com a bola na mão lá no Brasil, nós é que temos que resolver nossa Previdência. Pelo que sei, aqui no Chile está totalmente controlada a situação, nós é que temos problemas”. Jair Bolsonaro, presidente.

Bolsonaro afirmava acreditar na “capacidade e no patriotismo” do ministro da Economia, Paulo Guedes, para solucionar o problema da Previdência. O presidente brasileiro lembrou que Guedes morou no Chile durante o governo de Augusto Pinochet e está levando “em parte” o formato do sistema para o Brasil.

Apesar dos elogios de Bolsonaro, a Previdência do Chile tem problemas graves, como o regime de capitalização previdenciária, medida que o governo brasileiro pretende regulamentar por lei complementar.

A ideia, que faz parte da reforma da Previdência proposta pela equipe econômica, é semelhante ao modelo fracassado no Chile, país que tem o dobro da taxa de suicídio entre os idosos em relação ao Brasil. Mas qual a relação dos suicídios com o sistema de aposentadorias por capitalização no Chile? Ganhando valores abaixo de um salário mínimo e sem condição de se sustentar, muitos preferem a morte.