19 de abril de 2024Informação, independência e credibilidade
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Considerado a feira delivery, a Mucuri da ceguinha e o corregedor de mercado

As confusões da quarentena no grupo do Gabi e na casa do Considerado

Já entrando para um mês de quarentena, dona Nildinha olha a geladeira e nada para comer. Vai à dispensa e se assusta. Só um pacote de farinha de mandioca, duas linguiças defumadas e outro pacote de feijão preto.

Passou a resmungar contra o mundo, o vírus, o bozo e até o neto, Considerado, que come feito cão sem dono. Comprar é preciso. Afinal, nesse estágio de confinamento o que mais se faz da vida é comer, beber, dormir, mas tem que pagar.

Ela com visita em casa, pois mandou buscar a Cega Dedé, lá em Paulo Jacinto, para ficar de olho na velhinha que vive só. A ceguinha estava querendo comer um cuscuz com guisado de bode. Nildinha teve que dizer-lhe que estava faltando tudo. -Então vamos comprar. -Dedé animou-se. -Não podemos sair ceguinha, estamos de quarentena. Mas, vou mandar o Considerado no supermercado. -Melhor na venda do Né Bodeiro, tem de tudo lá. – Insistiu a velhinha crente que estava em PJ.

Nildinha fez de conta que não ouviu e gritou para o sobrinho. Disse-lhe que ia fazer uma relação de compras para que ele fosse ao supermercado. O neto reagiu: -Melhor não, vó. -Como melhor não, você não come não? – A vó, já enfezada. -Não se trata disso dona Nildinha, a senhora faz a relação eu ligo para o supermercado e peço delivery. -Considerado, além da preguiça, mostrou-se prudente.

Fez questão dizer que não era bom sair por que as duas eram de alto risco e ele saindo poderia contaminá-las. Nildinha entendeu e decidiu seguir a modernidade. Manda a lista pelo WhastApp e o supermercado entrega a feira em casa.

Ditou a relação e incluiu a carne de bode de Dedé, duas garrafas de vinho Syrah e mais duas caixas de cerveja puro malte. Antenada, ouvindo a lista, a Cega Dedé gritou: -E uma garrafa de Mucuri! -O que diabo é isso ceguinha? Indagou o Considerado. -Minha água de oração. -Disse-lhe.

Nildinha explicou que aqui não tinha Mucuri – uma cachaça antiga que foi muito famosa no interior alagoano. -Que lugar mais atrasado é este? Na bodega do Né Bodeiro eu sei que tem. -Protestou anciã. – É muito longe daqui Dedé. -Desarmou Nildinha, mandando o neto inserir na lista uma garrafa de Pitu. Afinal, a ceguinha não ia sentir a diferença.

O mercado público nesses tempos de coronavírus: sem corregedoria.

Para acalmar nais a ceguinha, Considerado ainda ligou para o amigo Batoré, que estava às escondidas no bar do Lula Manguito, e pediu que mandassem para casa da vó uma porção de carneiro com feijão verde. Lá eles também estão com delivery. Afinal, a feira vai demorar.

 

-Oh, Considerado e o Batoré está fazendo o quê em um bar? – Perguntou Nildinha.

-Vó, tem um grupo da turma do Gabi, que quando não está no Lula vai ao próprio bar do Gabiru.

-E eles estão abrindo?

-Abrem pra fazer entrega. Mas, nos dois casos, o Davan Tonelada arranjou espaço para ficarem bebendo escondidos. Uns loucos.

-Meu Deus… Loucos mesmo. E onde anda meu amigo Caturité?

-Grupo de risco, está em casa, triste…

-Coitado, deve estar sofrendo demais.

-Por quê, vó?

-Aquela mulher dele é uma serpente…

-Que é isso, dona linguaruda, eles se amam.

-É. Exatamente como essa turma de vocês. Não para de ter confusão.

-O pior é que o Pastor, aquele grileiro de Joaquim Gomes, rompeu com o grupo por causa da política.

-O que houve?

-Lá é quase tudo seguidor do Bozo. O pastor também, mas saiu por que achou que estavam exagerando em todas as conversas.

-Menos mal.

-Mas, no lugar dele ficou o Corregedor. Uma mala sem alça.

-Corregedor da justiça?

-Ele diz que é de uma instituição aí, mas eu acho que está mais para corregedor do Mercado Público.

-Minha nossa, daquela zona?

-Vó… É melhor a gente ir buscar a Mucuri da Ceguinha…