7 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
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Crime da Braskem, a OEA, o povo de Maceió e o ‘segue o baile’

É como se o poder da mineradora colocasse uma venda nos olhos e uma mordaça na boca de homens e mulheres bem distantes da indignação.

É impressionante a omissão e o descaso da sociedade maceioense com a parte da cidade destruída pela Braskem.

É impossível não se entristecer com o cenário chocante dos bairros atingidos. Quem passa nos trechos de ruas, ainda não bloqueados, e não se sensibiliza com o ambiente trágico é porque é desprovido de sentimentos.

Infelizmente, a sociedade e suas instituições se mantêm no mais absoluto silêncio em meio ao mundo de horror causado em Maceió, em nome dos interesses do capital.

A história da destruição não se apagará jamais. Mas, ainda assim, o maceioense parece não estar nem aí para o crime ambiental que destruiu patrimônios, sonhos e vidas nos bairros afetados.

É como se a sociedade torcesse a cara com a desculpa do “não aconteceu comigo”, na mais alta exposição do egoísmo.

É como se o poder da mineradora colocasse uma venda nos olhos e uma mordaça na boca de homens e mulheres bem distantes da indignação.

Ou é como uma sociedade sem alma e sem pertencimento de uma causa – e essa sim – verdadeiramente patriota.

Enfim, até parece que a Braskem não existe e nunca esteve por aqui. Embora seus efeitos danosos estejam aí a olhos nus. É também visto que a mineradora está colocando tapumes e fechando ruas nos bairros destruídos, talvez para evitar mesmo olhos curiosos e indignados.

Mas, se o maceioense se acomoda e nada faz, a Comissão Interamericana de Direitos Humanos (CIDH) da Organização dos Estados Americanos (OEA) decidiu colocar em evidência o maior crime ambiental de área urbana do mundo.

Neste 12 de julho, a comissão se manifesta por justiça e contra a impunidade, ao inserir a Braskem na audiência que discutirá a responsabilidade do Estado nas violações de direitos humanos causadas por atividades comerciais.

A audiência da OEA, que congrega 34 países, dará voz a representantes das vítimas dos rompimentos das barragens da Vale, em Brumadinho (2019), e da Vale e da BHP, em Mariana (2015); do afundamento causado pela Braskem com a exploração do subsolo em Maceió (2018); e dos incêndios da Boate Kiss (2013) e do alojamento Ninho do Urubu, do Flamengo, no Rio de Janeiro (2019).

Todos os casos são crimes horrorosos que chamaram a atenção do mundo, exatamente pela crueldade, o descaso e a omissão de autoridades que deveriam ter postura firme e ação reparatória em nome do respeito à vida.

Afinal, juntos, esses casos mataram 544 pessoas e ainda deixaram centenas de milhares de sobreviventes com sequelas físicas e emocionais graves.

No entanto, para o povo de Maceió parece que nada de ruim aconteceu. Por isso mesmo estão todos aí no “segue o baile”.