29 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Blog da Graça Carvalho

Cruzes simbólicas marcam Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher, na orla de Maceió

Ato foi organizado por ativistas do Movimento Olga Benario e do Centro de Defesa dos Direitos da Mulher

Cruzes foram fincadas próximo ao totem “Eu amo Maceió”, na Ponta Verde, simbolizando as mortes de 299 mulheres brasileiras, em 2018
Ativistas do Movimento Olga Benario e do Centro de Defesa dos Direitos da Mulher organizaram o protesto, em Maceió
Sob sol intenso, a manhã foi de esclarecimento à população sobre violência de gênero

Protesto silencioso e discreto, mas cheio de simbologia, chamou a atenção de alagoanos e turistas que foram aproveitar o sol deste domingo na orla da Ponta Verde, em Maceió.  Cruzes fincadas à beira mar por ativistas do Movimento de Mulheres Olga Benario e do  Centro de Defesa dos Direitos da Mulher (CDDM)  representaram  299 mulheres brasileiras vítimas de feminicídios em 2018. Dezesseis  morreram em Alagoas, conforme dados da divulgados pela Secretaria de Estado de Direitos Humanos e da Mulher, mas este número pode ser maior ou mesmo confundido com o casos de homicídios clássicos.

“É preciso pensar se os números de mortes violentas de mulheres representam, efetivamente, feminicídio ou não, de aocrdo com o que a investigação vai demonstrar.  Se estão presentes os requisitos que a qualificadora do homicídio – o feminicídio – estabelece. Ou seja, matar a mulher em razão de violência doméstica ou por razões de ser mulher”, ressaltou a advogada e socióloga Elaine Pimentel.

Para ela, se a investigações atentarem, de fato, para essa questão peculiar do feminicídio, os números vão sereais. Caso contrário, algumas situações de feminicídio podem ser  consideradas homicídios. É importante a produção de dados atentar para que a situação, de fato, represente a realidade.

Questões jurídicas e de monitoramento de dados à parte, o ato simbólico deste domingo faz parte das atividades ligadas ao 25 de Novembro, Dia Internacional de Combate à Violência contra a Mulher. A data foi instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU), em 1999, rememorando o assassinato de três  ativistas políticas, as irmãs

Além das cruzes, ato contou também com panfletagem na orla

Mirabal, a mando do ditador dominicano Rafael Leónidas Trujillo, em 1960.

“A violência  contra as mulheres aumenta no cenário de avanço do fascismo em nosso país. O combate à violência é uma questão de sobrevivência, ´uma questão de direitos humanos das mulheres”, justificam as representantes do Movimento Olga, em Alagoas, no panfleto distribuídos à população durante o ato da manhã deste domingo.

A jornalista Lenilda Luna, coordenadora local do Movimento Olga, e a advogada Paula Lopes, coordenadora do Centro de Defesa, estavam entre as ativistas alagoanas presentes ao Protesto das Cruzes. Cada uma a sua maneira, encontra  formas de dedicar seu tempo à causa. Afinal, embora o Brasil tenha avançado do ponto de vista legislativo, na defesa dos direitos das mulheres –  a exemplo da Lei Maria da Penha (Lei.11.340/06 e da inclusão do feminicídio, no Código Penal,  como qualificadora do  crime homicídio (Lei 13.104/2015) – a violência de gênero ainda não é reconhecida como tal  nem mesmos pelas próprias vítimas.

A coordenadora do Movimento Olga Benario explicou à população o motivo do protesto

“Nos atendimentos a mulheres vítimas de violência, percebemos que, antes mesmo das agressões físicas que as encorajaram a buscar ajuda, elas já sofriam outras formas de violência no seu cotidiano. Muitas delas sequer percebiam que se tratar de violência de gênero por parte de seus companheiros, namorados ou pais. Daí a importância de enfrentar esse assunto com muito diálogo e sem discriminação”, defende Paula.

A falta de infraestrutura capaz de garantir, com eficiência, a segurança da mulher que tem coragem de chegar a uma delegacia para buscar ajuda também continua sendo empecilho. à defesa das mulheres. “Um dos impedimentos para o atendimento à vítimas em Alagoas, por exemplo,  é a falta de delegacia 24 horas”, ressaltou Lenilda.

Mais que isso, as ativistas lutam também pelo direito de creche para os filhos de mulheres agredidas, em qualquer que seja o local de moradia; e entre outras garantias, serviços integrados de acolhimento com a ampliação e criação de abrigos e casas de referência.