A essência da democracia é conviver com os contrários e respeitar as diferenças. E essa é uma afirmação cada vez mais distante do Brasil de hoje.
Aqui reinam a desfaçatez, a mentira, a intolerância e o ódio entre os contrários, com raríssimas exceções. A rigor, cultua-se o desprezo pelo pensamento de oposição e pela valorização dos princípios democráticos.
Lamentavelmente, essa construção se consolidou no último processo eleitoral e ainda hoje resiste. passado o embate político da campanha. O exemplo claro é que o governo quer o pensamento único. Isto é, todos a favor.
E aí prevalece a máxima: “se você não está do meu lado, pensando exatamente como eu, está contra mim”.
Imagine que por conta desta máxima, o ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), até bem pouco tempo era visto pelo presidente Jair Bolsonaro e sua trupe, como um dos inimigos do atual governo. Teve seu impeachment proposto no Congresso, nas ruas, e inclusive no Twitter de Carlos Bolsonaro, o filho predileto.
A causa: Toffoli foi indicado para o cargo pelo ex-presidente Lula.
Mas, depois de um jantar em Palácio e da proposta do “pacto dos três poderes”, pacto este redigido por Dias Toffoli, o presidente do Supremo virou o queridinho do presidente da República.
Exatamente nesta quinta-feira (30), Toffoli voltou ao palácio para um café da manhã com Bolsonaro e foi contemplado com a pérola: “é muito bom ter a justiça ao nosso lado”.
Não satisfeito, Jair Bolsonaro emendou: -Toffoli tem sido uma pessoa excepcional, o que é muito bom estar do lado certo.
O real é que tudo isso soa estranho.
Toffoli pode cumprir com esmero a liturgia do cargo, como a democracia preconiza, sempre que o momento exigir.
O que não pode é atrelar o judiciário aos interesses do Executivo.
E os últimos acontecimentos indicam ter sido isso que Bolsonaro deixou bem entendido.