1 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Disparou WhatsApp nas Eleições: Funcionária ganha cargo no Planalto

Com salário de cerca de R$ 10,3 mil, Taíse de Almeida Feijó vai despachar ao lado do Presidente

Nas eleições, pacotes de disparos em massa de mensagens contra o PT, no WhatsApp, foram comprados por empresas para uma grande operação na semana anterior ao segundo turno. A denúncia do ano passado, que ligava o nome de Bolsonaro, então candidato, a uma indústria de fake news, fez barulho.

Mas não o suficiente para que uma funcionária da agência de comunicação, responsável pelos disparos em massa, deixasse de ganhar um cargo no Planalto.

Com salário de cerca de R$ 10,3 mil, Taíse de Almeida Feijó, nomeada para um cargo comissionado, será assessora do gabinete do secretário-geral da Presidência, Gustavo Bebianno, um dos principais articuladores da campanha. Assim, ela deve despachar a poucos metros do presidente.

Taíse trabalhou para a agência de comunicação AM4 Inteligência Digital, empresa contratada pelo PSL para a campanha de Jair Bolsonaro à Presidência. Segundo a agência, Taíse era a funcionária responsável pela contratação das mensagens enviadas por meio do WhatsApp.

A prática é vedada pela legislação eleitoral e pode ser enquadrada como doação ilegal de empresas. O caso é alvo de investigações conduzidas pela Polícia Federal e junto ao TSE (Tribunal Superior Eleitoral).

Denúncias

Após a denúncia de que empresários bancam uma campanha contra o PT, pelo Whatsapp, e que ficou conhecida como o Caixa 2 de Bolsonaro, novas indícios chegaram ao conhecimento, principalmente, da Folha, primeira a fazer a descoberta.

Agora, dados revelam que foram apagados os registros de envio de mensagens disparadas pela campanha de Bolsonaro, curiosamente horas depois da denúncia. Aalém da campanha de Jair Bolsonaro (PSL), a de Fernando Haddad (PT) também fez uso da mesma plataforma digital. Entretanto, a campanha do PSL utilizou contatos de forma irregular.

A agência usada pelas duas é a Yacows, que oferece um serviço de disparos de mensagens em massa pelo WhatsApp. A AM4, que inicialmente negou, admitiu pela primeira vez que usou um serviço desse tipo, criado pela Yacows. O TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e a PGR (Procuradoria-Geral da República) abriram investigação sobre o caso após a denúncia inicial.

Arquivos deletados

Através de um acesso a registros da AM4 no serviço de mensagens, chamado Bulk Services, os dados mostram que as informações referentes às campanhas foram apagadas no sistema. Isso tudo foi confirmado por uma fonte da própria AM4, que pediu anonimato.

O presidente interino do PSL e coordenador da campanha do capitão reformado, Gustavo Bebbiano, descartou que a campanha de seu partido tenha usado a ferramenta durante as eleições e negou qualquer vínculo com a Yacows.

Com sede no Rio de Janeiro, a AM4 aparece na prestação de contas da campanha de Bolsonaro como responsável pela criação do site da candidatura e outras ações em mídia digital, pelas quais recebeu R$ 115 mil declarados ao TSE.

A empresa tem cadastro como cliente do sistema Bulk com ações registradas desde pelo menos o dia 25 de setembro e, de acordo com os dados, o login de usuário no sistema está em nome de uma funcionária da AM4, cujo nome foi confirmado à reportagem pela empresa. Em uma das listas de contatos apagadas estavam registrados pouco mais de 8.000 números de telefone.

Uma das mensagens apagadas dizia respeito a pedidos de doação para a campanha do candidato do PSL.