7 de outubro de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Filiado ao PSDB: Líder da paralisação dos caminhoneiros é próximo de entidade patronal

José da Fonseca Lopes, presidente da Abcam, já foi candidato a deputado federal pelo PSDB

Durante a negociação do Governo com os caminhoneiros, José da Fonseca Lopes, presidente da Abcam (Associação Brasileira dos Caminhoneiros), representava os direitos dos grevistas.

Foto: Valter Campanato/Agência Brasil

Antes mesmo do início da paralisação, Fonseca se apresentou como porta-voz da categoria e alertou alertou o governo, em carta assinada, para o risco de uma paralisação, o que foi ignorado pelo presidente. Já com a greve em progresso, Fonseca recusou o primeiro pacote de ofertas do Planalto, dando aval apenas no dia domingo (27).

Entretanto, a permanência de bloqueios e caminhões no acostamento das estradas colocaram em dúvidas a relevância do sindicalista, filiado ao PSDB e que já foi candidato a deputado federal pela sigla, em 1998, com apenas 1851 votos.

Quatro anos antes, ele já havia atuado como cabo eleitoral. Na disputa entre Mário Covas (PSDB) e Francisco Rossi (PDT) pelo governo de São Paulo, ele reuniu caminhoneiros para fazer uma grande caravana em favor do candidato tucano, que foi eleito.

Hoje, aos 76 anos, ele dirige uma entidade que diz ter 600 mil representados. Além da Abcam, ele dirigiu também a Fetrabens (Federação dos Caminhoneiros Autônomos de São Paulo) e o Sindtanq (Sindicato dos Transportadores Autônomos de Combustíveis de São Paulo).

Fonseca foi chamado ainda a assumir uma cadeira na vice-presidência da CNT (Confederação Nacional dos Transportes), entidade patronal, como representante dos transportadores autônomos de passageiros e de cargas. A relação com o patronato é tão harmoniosa que a sede da Abcam fica no prédio da CNT, em Brasília.

Locaute

Em meio à paralisação dos caminhoneiros, a CNT divulgou nota em que classificou como desproporcional a política de preços da Petrobras. Empresas do setor de transporte divulgaram apoio à paralisação dos caminhoneiros, o que levantou a dúvida sobre a prática de locaute, a participação de empresas e entidades patronais em paralisações e greves, proibido por lei.

O Cade (Conselho Administrativo de Defesa Econômica), a Polícia Federal e a Procuradoria-Geral da República investigam se empresas e entidades patronais premeditaram a paralisação dos caminhoneiros. Uma lista com 21 alvos da apuração foi divulgada no domingo (27) pela TV Globo. José da Fonseca Lopes, a Abcam e a CNT estão entre os investigados.

Não é a primeira vez que Fonseca é alvo desse tipo de questionamento. Em 1995, como presidente do Sindtanq, ele foi porta-voz de uma ameaça ao governo de paralisar o transporte de carga caso o governo não concedesse um reajuste no frete. O governo, na ocasião, denunciou o locaute.

O PSDB disse que “as atividades de José da Fonseca Lopes como líder de entidade de classe não se confundem com sua filiação partidária, ocorrida há mais de duas décadas”. A CNT disse, em nota, “a Abcam, assim como diversas entidades representativas do setor de transporte, está localizada no Edifício CNT, no setor de autarquias Sul, em Brasília”.