2 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Gostando ou não, BBB pauta sociedade e abre portas para discutir importunação sexual

MC Guimê e Cara de Sapato foram expulsos de programa após infringirem artigo 215-A do Código Penal

Na noite desta quinta-feira (16), a 23ª edição do Big Brother Brasil, reality exibido pela TV Globo, expulsou de uma vez só dois de seus participantes: o funkeiro Mc Guimé e o lutador Cara de Sapato. O motivo foi o mesmo, a importunação sexual de uma participante da casa, a mexicana Dania Mendez.

Expulsões no programa não são novidade. Na maior parte dos casos, acontecem após casos de agressão. Além de Marcos Harter, que na edição 17 agrediu a então namorada Emily Araújo, vale mencionar que Daniel Echani, do BBB 12, foi expulso por abusar sexualmente Monique Amonim, que estava desacordada após uma festa.

Vanderson Britto, do BBB 19, também saiu, mas para prestar depoimento à política por acusações de estupros cometidos antes do programa começar. São recortes infelizes e que nunca deveriam ter acontecido em um dos programas mais assistidos do Brasil, mas se comparado com momentos de Sodoma e Gamorra do A Fazenda na emissora do Universal, a Record, a amostragem é até pequena.

E por pior que tenha sido o ocorrido, é importante ressaltar que pela primeira vez houve expulsões por um beijo roubado e uma mão boba na bunda.

É crime

Antes de tudo, a importunação sexual é um crime mais grave do que o “assédio” e tem pena mais severa, que vai de 1 a 5 anos. O artigo 215-A do Código Penal também condena a prática do ato libidinoso na presença de alguém, sem sua autorização.

Entre os exemplos na letra da lei estão apalpar, lamber, tocar, desnudar, masturbar-se ou ejacular em público, dentre outros. O assédio sexual é o uso de sua condição de ocupar cargo superior no local de trabalho de ambos, com objetivo de constranger a vítima a lhe conceder vantagem sexual.

O que MC Guiné e Cara de Sapato fizeram foi importunação. O funkeiro, casado, acariciou as nádegas da mexicana e ficou alisando costas da dela, que claramente não estava gostando das investidas. Além disso, outra participante, Bruna Griphao, foi apalpada pelo bumbum por MC Guimê e o cantor insistiu várias vezes para que ela ficasse com ele no Quarto do Líder.

Já o lutador Cara de Sapato forçou um beijo na mexicana e avançou sobre ela na cama do quarto Fundo do Mar. A situação chegou num ponto em que até mesmo a produção do BBB precisou chamar a atenção.

Não tem justificativa

Claro, há quem ainda venha defender os dois expulsos, contextualizar as bebidas na casa e as tentativas de aumentar a audiência com flertes sexuais. Besteira.

Se a bebida fez MC Guimé ter mão boba e Sapato usar de sua força para roubar um beijo, porque os outros participantes homens não fizeram o mesmo?

Pra constar: Alface bebeu e pediu Sarah em casamento. Foi patético, mas não criminoso. Cezar Black bebeu, dançou, chorou e dormiu. Já Gabriel bebeu e se declarou para Bruna, sem nunca tocar nela. Principalmente depois de ter levado um fora.

O problema é que fica enraizado em nossa cultura (infelizmente, de estupro) que se ambos estão bêbados, não se pode culpar apenas o homem. Ou que uma mulher que fica dizendo não está apenas fazendo jogo e “no fundo” quer dizer sim. Ou que se está numa festa regada a bebidas, a mulher resolveu “correr o risco” de levar uma passada de mão ou ter um beijo roubado.

Até mesmo a forma como elas se vestem é argumento. Qual justificativa o homem, casado ou não, teria perante à lei após ser acusado de assédio, importunação ou abuso sexual? Que elas não deveriam estar de maiô no calçadão da praia? Ou de que a minissaia estava muito distante dos joelhos?

Momento histórico e polêmico

“O mundo está chato demais” ou “nem pode mais dar em cima de mulher” é o argumento clichê que deve ser repelido, combatido e contra-argumentado. Uma pauta que foi aberta graças a mais uma edição do BBB, que de uma forma ou de outra coloca nas mesas de discussão, até mesmo entre quem não assiste, temas como agressão, racismo, homofobia e crimes sexuais.

Não que a produção tenha agido de forma ideal neste caso. Sem tato, fizeram Dania Mendez, a vítima do caso, chorar e se sentir culpada pelas expulsões. Tudo poderia ter sido de forma diferente. Com os expulsos recebendo os avisos isoladamente. Que relatos não fossem abertos aos demais participantes.

Mas, que seja. Gostando ou não, pelo menos por um dias, os brasileiros, até os que não assistem BBB, vão falar sobre importunação sexual. E pode ser assustadoramente revelador você descobrir quem estaria de seu lado ou não neste caso.