1 de outubro de 2024Informação, independência e credibilidade
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Jornalistas: as rosas da Nicarágua não murcharam

Proposta de redução salarial é indecente e uma afronta à dignidade profissional

Nos anos 80, em plena militância no Sindicato dos Jornalistas, liderado pelos saudosos Dênis Agra e Freitas Neto, vivi emoções, muitas incontidas, em uma luta renhida pela conquista do piso salarial dos jornalistas alagoanos.

Naquela época, como hoje, a Organização Arnon de Mello, puxando as demais para negar direitos inalienáveis dos profissionais de comunicação de suas empresas, assim como dos demais trabalhadores dos seus veículos.

Foram idas e vindas à justiça. Foram greves e greves com muita carreira da polícia convocada pelos patrões para reprimir movimento pelo direito ao salário justo.

Eis que conquistamos o piso em ato solene realizado no auditório da Delegacia Regional do Trabalho com as presenças dos dirigentes das empresas e de nossos líderes, com direito a discursos memoráveis de Petrúcio Vilela, Nilson Miranda, Roberto Villa Nova, Valter Oliveira, Iremar Marinho, Plínio Lins, Ênio Lins, Carlos e José Luiz Pompe, Régis Cavalcante, Cláudio Humberto Rosa e Silva, Mozart Cintra, Téofilo Lins, Fernando Araújo, Zito Cabral, Aldo Ivo, José Feitosa, Adelmo dos Santos, entre outros. As mulheres eram poucas na profissão, mas estavam lá: Eliane Aquino, Bleine Oliveira, Zélia Cavalcanti, Goretti Lima, Cândida Palmeira, entre outras. Não foi fácil, mas a luta foi gratificante.

No auge de toda a campanha fomos acusados de comunistas, terroristas e outros istas mais. Rotularam-nos de ser vinculados ao governo comunista da Nicarágua. Para todos os acusadores levamos – no ato da assinatura do acordo que instituiu o piso salarial – rosas vermelhas e dissemos gentilmente que essas eram as rosas da Nicarágua.

Agora, lastimavelmente, no recrudescimento das leis trabalhistas no País, o passado nefasto está de volta. Os patrões tentam impor uma agenda de retrocessos nos direitos dos seus funcionários, começando por uma redução nos salários dos jornalistas na ordem de 40%. Uma ação pra lá de indecente. A imposição é capitaneada pelas empresas do senador Fernando Collor com o apoio dos demais veículos – TV Pajuçara e TV Ponta Verde.

Os senhores políticos proprietários dos veículos de comunicação em Alagoas peitam-nos agora, escudados na pouca vergonha e na imoralidade da proposta que fizeram ao acordo salarial atual. Saibam, pois, que mexeram num formigueiro. Os jornalistas indignados, após várias tentativas frustradas de negociação dentro do Tribunal Regional do Trabalho (TR-AL) – decidiram apelar para  greve geral da categoria.

Nós vamos às ruas, às portas das empresas, aos palácios, aonde for em nome da dignidade profissional. Nada se conquista em lugar nenhum sem luta. Que todos os jornalistas alagoanos tenham isso com clareza e determinação.

Chegou a hora de dizer a essa gente que maltrata e persegue trabalhadores que as rosas da Nicarágua não murcharam.

 

 

One Comment

  • Avatar Plínio Lins

    Naquela histórica assembleia no auditório da DRT, Zito Cabral disse uma frase que eu nunca mais esqueci. Auditório lotado, era a vez do senador Arnon falar. Ele só faltou chorar, disse que as poderosas Gazetas estavam na miséria, quase nos pediu piedade. Aí o Zito (pra quem não o conheceu, era baixinho e magro mas tinha um vozeirão grosso que só), o Zito (que trabalhava no Jornal de Alagoas, concorrente da Gazeta) levantou como quem ia ao banheiro e no meio daquele silêncio disse no corredor, sem precisar gritar: – “Patrão é igual a gato de noite no telhado. Quanto mais goza, mais chora”. Foi uma gargalhada geral e o senador ficou meio sem graça.

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