20 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Justiça

Juíza barra que 11 transexuais e travestis sejam transferidas para o presídio feminino

A defesa das trans e travestis alegam que a decisão de juíza não respeita “a dignidade inerente às suas identidades de gênero”.

Leila Cury, juíza da Vara de Execuções do Distrito Federal, negou o habeas corpus coletivo de 11 presas provisórias que se declararam transexuais ou travestis, e exigiam ficar em um estabelecimento prisional feminino, respeitando a identidade de gênero. A juíza argumentou que “para preservação do direito de uns não pode haver desrespeito aos direitos de outros”.

Foto: Web

Para a juíza, a presença de mulheres trans em cárceres femininos, seria um fator de risco para as detentas “A musculatura esquelética de quem nasceu homem tem fator hormonal que lhe assegura vantagem de força sobre a mulher” e com isso, “a probabilidade de ocorrerem brigas ou desentendimentos é grande, comum aos ambientes em que há aglomeração de pessoas, especialmente em privação de liberdade, assim como a probabilidade de haver superioridade física das mulheres trans em relação às mulheres cis [cuja identidade de gênero é a mesma do sexo biológico] é maior ainda, de forma que estas se tornariam alvos frágeis”.

A magistrada também ponderou que, no Distrito Federal, as pessoas trans encontram-se detidas em celas separadas dos homens e têm banho de sol em horário diferente.

Defesa

Em contrapartida, a defesa alega, no pedido, que a permanência das transexuais na unidade prisional masculina não garante “a dignidade inerente às suas identidades de gênero”. O pedido foi baseado em decisão do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, por ocasião do julgamento de habeas corpus 152.491/SP, que determinou a transferência de duas travestis que estavam em celas masculinas para presídio feminino.

Segundo a presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), Keila Simpson, a decisão da juíza vai de encontro à Resolução nº 1 de 2014  do Conselho Nacional de Combate à Discriminação e Promoção dos Direitos de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (CNCD/LGBT), que prevê que “as pessoas transexuais masculinas e femininas devem ser encaminhadas para as unidades prisionais femininas” e que “às mulheres transexuais deverá ser garantido tratamento isonômico ao das demais mulheres em privação de liberdade”.

E ressalta, “Não deveria competir, em nosso entendimento, a um juiz ou diretor de presídio escolher ou definir que travestis ou transexuais ficar em um presídio masculino porque são homens. São homens no registro, na identidade e até no genital, mas não são homens socialmente. A identidade de gênero é feminina e deve ser resguardado esse direito para elas”.

Integrante do Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH), Carlos Magno avaliou a decisão como “lamentável”. “Além do risco a qualquer tipo de não respeito à sua dignidade humana, há um reforço ao estigma e ao preconceito por colocarem travestis e transexuais em ambientes masculinos cis. O que nós queremos é que elas sejam respeitadas em todos os espaços, inclusive em estabelecimentos prisionais, conforme sua identidade de gênero, portanto em presídio feminino”.