18 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Brasil

Juíza que suspendeu retirada de radares sofre ofensas e ameaças

Antes, no Facebook em março, Bolsonaro disse que decidiu extinguir as lombadas eletrônicas das estradas.

Juíza em evento, ao lado do hoje ministro Sergio Moro

A juíza federal Diana Wanderlei, que questionou a retirada de radares das rodovias federais pelo governo Jair Bolsonaro (PSL), sofre ameaças e ofensas nas redes sociais desde que suspendeu em abril a medida e solicitou à União estudos técnicos que embasem a substituição dos equipamentos.

A juíza, da 5ª Vara Federal em Brasília, informou que acionou o Ministério Público Federal para investigar o que considerou ofensas, injúrias e calúnias decorrentes da decisão liminar. Confira algumas delas:

  • “Essa vagabunda ta caçando jeito de amanhecer com a boca cheia de formiga!”
  • “Bunitinha mas ordinaria. Só pode ser. Para dar uma decisão deste tipo. Esquerdopata com certeza!”
  • “A empresa de radares deve ser do pai dela. Mas, agora com a carinha dela no Twitter, eu teria medo, heim?”
  • “Mais uma corrupta inimiga do Brasil”

Apesar disso, a juíza disse que não vai se intimidar. “Aqui, eu decido da forma que eu acho que deva ser decidido o caso concreto, mas se lamenta o nível de politização de um assunto tão relevante para a sociedade”, afirmou.

“Politizaram algo que é técnico, e a função deste juízo é técnica. Eu sou uma magistrada concursada, atuo com responsabilidade, já peguei causas de grande complexidade e consegui solucionar com bons acordos, inclusive. Não pode ser confundido o direito de criticar —a decisão do juiz é passível de críticas— com as ofensas. Essas ofensas, agressões e ameaças são crimes”. Diana Wanderlei, juíza federal.

Nas rodovias federais, mais respectivamente nos quilômetros em que foram colocados radares ou qualquer tipo de dispositivo eletrônico que iniba infrações de trânsito, houve uma redução de 21,7% no número de mortes em acidentes

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Contra radares

O Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes), ligado ao Ministério da Infraestrutura, informou que fará acordo para instalar radares em rodovias federais. É completamente o contrário do discurso do presidente Jair Bolsonaro (PSL), que disse que retiraria os equipamentos.

O acordo foi proposto pelo Ministério Público Federal no âmbito de uma ação popular que tramita na 5ª Vara Federal em Brasília. A ação foi ajuizada pelo senador Fabiano Contarato (Rede-ES) depois que Bolsonaro disse em março, em transmissão pelo Facebook, que decidiu extinguir as lombadas eletrônicas das estradas.

“Decisão nossa: não teremos mais nenhuma nova lombada eletrônica no Brasil. As lombadas que porventura existem, e são muitas, quando forem perdendo a validade, não serão renovadas”. Bolsonaro, em live no Facebook.

Nada de estudos. Apenas puro achismo e vontade de fazer. Foi o que motivou o presidente Jair Bolsonaro (PSL) a defender a retirada de radares de velocidade no país sob o argumento de devolver ao povo brasileiro “o prazer em dirigir”.

Em participação no programa Sílvio Santos, o presidente não citou a ordem judicial e afirmou que 8.000 processos para solicitar a instalação de radares em rodovias federais foram negados pelo ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura).

“As rodovias federais que têm radares instalados, quando expirar o prazo do contrato, não vamos renovar. No começo, quando decidimos isso, parte da mídia bateu em mim, disse que iria aumentar o número de acidentes e mortes. Bem, agora, nesse feriadão da semana Santa, diminuiu em 11% o número acidentes em rodovias e o número de mortes. Se tivesse aumentado, a culpa era minha. Como diminuiu, parte da imprensa não falou nada. E acho que estamos no caminho certo. O radar extrapolou aquela ideia de proteger a vida. Foi caça níquel. E tanto é verdade que logo no início do ano começamos e implementar esse processo”. Jair Bolsonaro