20 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Lula e Bolsonaro fazem último debate com poucas propostas e troca de acusações

Lula prometeu o mesmo desempenho de seus mandatos, enquanto Bolsonaro falava mentiras e apenas acusava o petista

A TV Globo realiza hoje (28) o último debate entre Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL) antes da votação do segundo turno, que acontece no domingo (30). O encontro tem a mediação do jornalista William Bonner, sendo realizado nos Estúdios Globo, no Rio de Janeiro.

Foi o mais tenso dos debates desta eleição. Com poucas propostas para o futuro do país, os dois presidenciáveis discutiram sem a intervenção de jornalistas. Lula focou nos feitos de seus governos (2003-2010) e Bolsonaro, nos ataques ao adversário e a aliados do petista.

Segundo pesquisa Datafolha divulgada horas antes, Lula aparece com 49% das intenções de voto e Bolsonaro com 44%. Outros 5% disseram que devem votar em branco ou nulo e 1% dos entrevistados se declararam indecisos. O levantamento tem margem de erro de dois pontos percentuais. O segundo turno está marcado para 30 de outubro.

1º Bloco

No primeiro bloco, com duração de 30 minutos, sendo 15 minutos de fala para cada um, o presidente Jair Bolsonaro insistiu que o petista negasse a acusação do plano de Guedes, que acabaria com o aumento real do salário mínimo.

Seja esta ou acusações de roubo, corrupção e outras mais, Lula absolutamente não respondeu diretamente nenhuma das perguntas de Jair Bolsonaro.

E enquanto o presidente chamava o petista de mentiroso, Lula lembrava do total de vezes Bolsonaro mentiu.

Ao final do bloco, Lula teve a análise de sete pedidos de resposta. Ganhou apenas um e fez um rápido relato de seu governo.

Curiosamente, até mesmo William Bonner teve um “direito de resposta”. Isso após Bolsonaro afirmar que Bonner insiste em chamar Lula de “inocente” e perigaria até ser um ministro do STF no governo petista. O jornalista da Globo, no entanto, afirmou que apenas repassou a decisão tomada pelo STF.

2º Bloco

O segundo teve temas definidos pela produção da TV Globo, e terão duração total de 20 minutos, divididos em dois debates de 10 minutos. Os candidatos escolheram entre seis assuntos exibidos em um telão:

  • Respeito à Constituição;
  • Equilíbrio das Contas Públicas;
  • Meio Ambiente;
  • Combate à Pobreza;
  • Racismo;
  • Criação de Empregos.

O primeiro a escolher foi Lula, que queria falar de Reforma da Previdência, que não estava dentre os temas. Escolheu então “combate à pobreza”.

Indagando o presidente sobre o número de famintos no Brasil, Lula usou dados do estudo sobre insegurança alimentar, que foi realizado pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional (Rede Penssan), onde foi apontado que mais de 33 milhões de brasileiros estariam passando fome.

Bolsonaro negou os números, usando coletados pelo Ipea, a fundação Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada, uma fundação pública federal vinculada ao Ministério da Economia.

No meio das acusações de mentiras, ambos passaram a falar da invasão de terras pelo MST, com Bolsonaro acusando 20 invasões diárias no governo Lula, contra quatro no seu.

Mudado o tema (embora combate à pobreza não tenha sido discutido), Bolsonaro escolheu o “respeito à Constituição”. Lula acusou o rival pelos ataques ao Supremo e instituições. Bolsonaro respondeu citando o caso da Jovem Pan, que segundo ele foi censurado.

O petista explicou que a Jovem Pan deveria apenas fazer isonomia nesta eleição, afirmando que Bolsonaro seria “dono” do canal de direita. Ambos, então, falaram de aborto e trocaram fortes acusações, até o fim do bloco, encerrado com um direito de resposta de Lula, após as acusações de corrupção.

3º Bloco

No terceiro bloco, as regras foram as mesmas do primeiro, com duração de 30 minutos, sendo 15 minutos de fala para cada um.

Lula (PT) resolveu abrir o terceiro bloco falando da pandemia, tema negativo para Jair Bolsonaro (PL). Ele questionou por que o presidente atrasou a vacina e o oxigênio para Manaus, além de não ter seguido as orientações da ciência.

Bolsonaro afirmou que comprou, sim, a vacina e defendeu as ações do governo federal. “Se você tomou a vacina, agradeça a mim”, disse.

“Quando ele foi comprar a vacina, São Paulo já estava dando a vacina e vários países estavam dando vacina”, rebateu Lula.

“Ele sabe que um dia vai bater na consciência dele a responsabilidade de pelo menos metade das pessoas que morreram”, disse Lula. Ele afirmou ainda que Bolsonaro foi ao enterro da rainha da Inglaterra enquanto “tinham 680 mil pessoas esperando um gesto de humanismo que ele não teve”.

4º Bloco

Jair Bolsonaro questionou Lula sobre criação empregos. O petista afirmou que, atualmente, são contabilizados trabalhos informais, enquanto, no tempo dele, “emprego” é aquele com carteira assinada.

Depois, o tema entre os candidatos migrou para a relação com os prefeitos. Lula seguiu a estratégia de não cair nas provocações de Jair Bolsonaro e falou diretamente com o eleitor. O candidato do PT falou sobre criar empregos com direitos trabalhistas.

Bolsonaro afirmou que o parlamento está alinhado com ele, o que facilitaria o Brasil “decolar e ser uma grande nação”.

Lula dosou mal o empo e deixou Jair Bolsonaro com 2:24 para falar sozinho. O presidente elogiou o PIX, falou sobre os brasileiros que são MEI (microempreendedor individual), depois citou a água no Nordeste, falou sobre metrô em Minas Gerais, citou diversos estados do Brasil e particularidades de cada um.

Na vez de Lula perguntar, o petista optou por falar sobre meio ambiente e mudanças climáticas. “Até quando o senhor vai continuar a política de desmate nos biomas brasileiros, sobretudo na Amazônia?”, perguntou.

Enquanto Bolsonaro acusou Lula de ter desmatado mais, o petista lembrou de Marina Silva, que foi ministra do Meio Ambiente durante os governos lulistas.

A discussão se estendeu para temas como energia limpa, saneamento básico e fornecimento de água. O fim, no entanto, foi sobre a quantidade de picanha que era possível comprar com o Bolsa Família e com o Auxílio Brasil, assunto dito por Bolsonaro e criticado por Lula.

Os dois candidatos fizeram pedidos de direito de resposta, mas foram negados.

Considerações finais

No último bloco, os candidatos tiveram 1 minutos e 30 segundos cada para suas considerações finais.

Nas considerações finais, Lula pediu o voto dos eleitores para “voltar a consertar esse país, fazer o país crescer, gerar empregos e para o povo voltar a comer bem”. “Se depender de você, eu poderei ser o próximo presidente, para restabelecer a harmonia neste país”, disse.

“Possivelmente, os melhores momentos que o país viveu nas últimas décadas foi o tempo que governei esse país, porque não tinha briga, confusão, ódio”, disse Lula. Ele lembrou que o Ministério da Educação fazia a distribuição de livros, que a “cultura funcionava” e que “o salário aumentava, todo ano, acima da inflação”.

Já Bolsonaro se dirigiu a sua própria base eleitoral. Ainda cometeu uma gafe ao dizer que quer ser “deputado federal”, mas logo corrigiu o cargo para presidente.

“Quero agradecer a Deus uma segunda vida que me deu lá em Juiz de Fora. Estarei pronto para ser deputado federal, digo presidente. A eleição é escolher um futuro da nação. Somos um país de 90% cristãos. Vamos escolher se o aborto vai continuar sendo aborto ou não. Não queremos a liberação das drogas, respeitamos a propriedade privada. Somos da ordem e progresso. Até a vitória”, finalizou.