20 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Justiça

‘Minuta golpista’ estava em pasta do governo federal e não seria jogada fora, diz PGR

Procuradoria pediu ao STF manutenção de prisão do ex-ministro Anderson Torres

A minuta golpista encontrada na casa de Anderson Torres, durante cumprimento de mandado de busca e apreensão, estava dentro de uma pasta do governo federal e não seria jogada fora, ao contrário do que ele disse em depoimento após ser preso.

Apesar do que disse Anderson Torres s Procuradoria-Geral da República (PGR) junto a outros itens como fotos de família e uma imagem religiosa, não seria descartado, rebatendo o argumento do ex-ministro em petição apresentada ao Supremo Tribunal Federal (STF).

“Ao contrário do que o investigado já tentou justificar, não se trata de documento que seria jogado fora, estando, ao revés, muito bem guardado em uma pasta do Governo Federal e junto a outros itens de especial singularidade, como fotos de família e imagem religiosa”.

O documento da PGR, assinado pelo procurador Carlos Frederico Santos, pede que o ex-ministro permaneça em prisão preventiva, pois ele colocaria em risco o prosseguimento das investigações se colocado em liberdade.

A apreensão da minuta golpista só foi possível porque Torres estava nos Estados Unidos e, se estivesse em liberdade, poderia ter ocultado ou destruído esse e outros elementos de prova, assim como ocorreu com seu celular. Ele disse que esqueceu o aparelho na volta, mas a PGR acredita que ele foi deixado nos Estados Unidos para “impedir a extração de dados e análise da prova”.

Mensagens

Trocas de mensagens extraídas de um grupo de Whatsapp revelam que o então secretário de Segurança Pública do Distrito Federal, Anderson Torres, manifestou preocupação com a chegada dos manifestantes golpistas à Esplanada dos Ministérios.

“Não deixem chegar ao Supremo”. A frase foi enviada pelo então secretário ao grupo de Whatsapp “DIFUSÃO”, do qual participavam, além de Torres, o então comandante-geral da Polícia Militar no Distrito Federal, Fábio Augusto Vieira, e outros membros das forças policiais.

A mensagem de Torres foi encaminhada às 14h56 (horário de Brasília), quando ele se encontrava de férias nos Estados Unidos. Embora tenha demonstrado preocupação na mensagem, o MPF destaca que a atitude não foi suficiente.

“Anderson encaminhou a imagem e as informações a Fernando (Fernando de Sousa Oliveira), seu substituto, limitando-se a determinar que não deixasse ‘chegar no Supremo’, ao invés de determinar que as tropas a ele subordinadas impedissem qualquer avanço contra a Praça dos Três Poderes. Há indícios de que Anderson possibilitou que os atos violentos se concretizassem, evidenciando omissão ao ordenar, unicamente, a proteção do prédio do Supremo Tribunal Federal”.

O grupo “DIFUSÃO”, segundo o próprio MPF, tinha por finalidade a difusão de relatórios e informações de inteligência referentes aos atos do dia 08 de janeiro de 2023, com o propósito de viabilizar uma atuação articulada dos órgãos de segurança pública.

Anderson Torres deixou o país no dia 2 de janeiro, antes do início de suas férias, previstas para o dia 9 de janeiro.

“Ao sair do país, mesmo ciente de que os atos ocorreriam no dia 8 de janeiro, vislumbra-se que Anderson Gustavo Torres, deliberadamente, ausentou-se do comando e coordenação das estruturas organicamente supervisionadas pela pasta que titularizava, fator que surge como preponderante para os trágicos desdobramentos dos fatos em comento”.