(*) Por Fátima Almeida
Houve um tempo em que o ‘trimm’ estridente do telefone era o som mais esperado dentro de casa. Notícias de alguém muito querido, momento de conversar, ouvir a voz, matar saudades…
Aos poucos, aquele toque quase universal foi substituído por suaves melodias do celular, em qualquer lugar, na palma da mão, permitindo a interação com amigos e familiares, de onde estivesse, com uma simples chamada. Era essa a função do celular: ligar e receber chamadas de qualquer lugar onde houvesse sinal..
Hoje essa função fica cada vez mais rara, com o advento das redes sociais e de aplicativos diversos, criados para facilitar a comunicação e facilitar a vida das pessoas. De repente tarefas que levavam horas do nosso dia, como ir ao banco, pagar contas, estão alí, na palma da mão, na ponta dos dedos, resumindo as horas perdidas a poucos minutos.
Era pra ser só isso. Mas a quantidade e a dependência que começamos a desenvolver em relação a esses dispositivos maravilhosos estão se tornando tão excessivos que em alguns casos começam a atrapalhar. Estão nos deixando mudos, longe do contato por viva voz, perceberam?
Acordamos pela manhã e consultamos a previsão do tempo no celular; tomamos o café com os amigos do facebook, do instagram e do whatsapp, sem sair de casa (e quase não sobra espaço para aquela conversa presencial, ao redor da mesa).
Já é hora de sair para a escola ou para o trabalho, o aplicativo diz em quanto tempo seu ônibus vai passar; o combustível tá pouco, ele indica onde é possível abastecer com preço mais barato; o trânsito parou, veja no celular se tem uma rota alternativa…
O dia mal começou e a ‘realidade’ virtual vai ficando mais evidente a cada minuto. Ícones coloridos nos atraem e o celular (smarthfone) começa a grudar na mão: lojas online de todos os tipos, lanches, almoços, reservas de mesas para o restaurante…
O carro parou? Existe aplicativo que localiza a oficina mais próxima e te direciona um mecânico. Precisa de táxi? Pede pelo aplicativo, que eles chegam rapidinho, sem surpresas; você já sabe logo de saída, quanto vai pagar. Esqueceu a CNH, o título de eleitor? Tá no smartphone; quer desconto no supermercado? baixa o aplicativo; medir a pressão, consultar o extrato do banco, pagar contas, usar o título de eleitor, pra tudo tem um aplicativo a te facilitar a vida.
Não é a toa que a Apple já atingiu a marca de 75 bilhões de downloads em sua App Store; e a Play Store do Google atingiu a marca de 50 bilhões. Juntas, as duas empresas são responsáveis por 94% dos sistemas operacionais usados no mundo.
O problema é que toda essa facilidade está criando uma relação de dependência escravizante.
Além de ocupar espaço na memória, 96% dos principais aplicativos operam sem precisar ser acionados; 83% acessam dados sensíveis, como contatos, mensagens, geolocalização e demais arquivos pessoais, segundo pesquisa da Kaspersky divulgada em maio passado.
E mais, é necessária a atualização periódica. Pesquisadores da área dizem que os aplicativos desatualizados deixam brechas à ação de hackers que se instalam e abrem portas aos malweres, trojans e outros monstrinhos cibernéticos. Diz a pesquisa da Kaspersky que existem mais de 77 mil trojans espalhado pela rede e prontos para acessar seus dados bancários.
Para fazer face a essa ameaça constante de invasores, um outro exército – de pesquisadores em tecnologia da informação – vive às voltas com o desenvolvimento de sistemas de proteção, que chegam em forma de novos aplicativos.
E haja memória para o celular armazenar tanta coisa. Em breve teremos que usar dois aparelhos com funções distintas: um para telefonar – caso essa modalidade de comunicação não desapareça de vez – outro exclusivamente para a fria agilidade dos apps.
Ah, tô te ligando… Não consegue atender? Baixa o aplicativo!