20 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Esportes

O karma de Vítor Pereira

Após deixar o Corinthians de maneira controversa para assumir o comando técnico do Flamengo, português acumula fracassos e já sofre ‘fritura’ de torcedores e comentaristas

Vítor Pereira, técnico do Flamengo – Foto: André Durão

Por Dyego Barros

Quando desembarcou no Brasil, em fevereiro de 2022, para assumir o Corinthians, Vítor Pereira animou não apenas os torcedores alvinegros do clube de Parque São Jorge, mas também boa parte das ditas mesas redondas de análises e debates, que, à época, consideraram a contratação do treinador, com passagens por europeus como Porto e Fenerbahce, um salto de qualidade no mercado que envolve os profissionais da área técnica atuantes no país.

E, de fato, a aposta de Duílio Monteiro Alves parecia certeira. Algoz do compatriota Jorge Jesus no período em que dirigiu a equipe do Dragão, VP passava a impressão de que poderia causar no futebol brasileiro um impacto semelhante ao do rival, ex-benfiquista, consagrado ídolo do Flamengo em 2019.

Porém, apesar de flertar com um título de Copa do Brasil no trabalho desenvolvido no Timão, o português de 54 anos chegou ao fim da temporada sem nenhuma conquista e com números bem semelhantes aos de Sylvinho, que contava com forte rejeição da Fiel.

Treinador superestimado?

Mal nos clássicos e com um desempenho pífio fora dos domínios de Itaquera, VP não parecia tão mais competente que seu antecessor. Ao menos não a ponto de custar aos cofres corinthianos aproximadamente dez vezes mais que o ex-lateral, formado nas categorias de base da instituição.

Apesar disso, Vítor Pereira jamais deixou de contar com o apoio do bando de loucos. Paciente, a arquibancada parecia entender que era preciso confiar no processo. O ‘selo estrangeiro’ talvez o tenha ajudado com isso. Trabalhos brilhantes, como os de Abel Ferreira, do Palmeiras, e do já citado Jorge Jesus, têm o efeito de despertar nos adversários a esperança da chegada de um comandante que os liberte da mediocridade dos treinadores brasileiros.

Neste cenário, Duílio, que construiu uma relação de amizade com o treinador, não mediu esforços para sua permanência em São Paulo. Assim como toda a cúpula corinthiana, o mandatário do último campeão mundial sul-americano apostava que o sucesso viria com a sequência do projeto, embora boatos – que acabaram se confirmando posteriormente – dessem conta que o “Gajo” não contava com qualquer simpatia do grupo de atletas.

‘Passa-moleque’ nos corinthianos

Como essa novela terminou, os amantes do esporte bretão já sabem. Depois de enrolar os paulistas por meses, o até então prestigiado Vítor Pereira alegou problemas familiares para afirmar a impossibilidade de permanecer no Brasil. A doença da sogra era apontada como o principal empecilho à renovação de contrato, enquanto, nos bastidores, o “profissional” já negociava com Marcos Braz, dirigente rubro-negro, para suceder Dorival Júnior, descartado pelos cariocas mesmo após liderar as conquistas da Libertadores e da Copa do Brasil no segundo semestre do ano passado.

Início decepcionante no Fla

Mudando de endereço, mas não de país, e fugindo do tema que envolvia a progenitora de sua senhora quando questionado por repórteres sobre o tema, VP chegou à Gávea em janeiro alegando ter se deixado seduzir pela possibilidade de conquistar títulos. De lá pra cá, já perdeu três: Supercopa do Brasil, Mundial de Clubes e, mais recentemente, a Recopa Sul-americana. Além de ainda não ter sido capaz de fazer um elenco recheado de jogadores acima da média apresentar um desempenho minimamente razoável em um campeonato estadual pouco competitivo.

Lei do retorno?

É claro que ainda há tempo suficiente para uma mudança de curso, afinal, são apenas dois meses de Rio de Janeiro, mas a insatisfação demonstrada pelos flamenguistas diante da derrota para um Vasco em reconstrução, na noite do último domingo, indica que o processo de fritura do treinador já está em curso, o que reforça o ditado popular de que “tudo que começa errado, tende a não acabar bem”.