20 de setembro de 2024Informação, independência e credibilidade
Policia

Operação resgata “212 escravizados da cana” e bate recorde em 2023

Perfil das vítimas de tráfico de pessoas para fins de trabalho escravo é de nordestino, negro e com pouca escolaridade

Uma operação conjunta do Ministério Público do Trabalho, do Ministério Público Federal e da Polícia Federal resgatou 212 trabalhadores que atuavam no plantio de cana-de-açúcar em Goiás e estavam alojados em Itumbiara e Porteirão (GO) e Araporã (MG).

A ação, que terminou na sexta (17), salvou gente de uma prestadora de serviços que fornecia mão de obra a quatro fazendas e uma usina, batendo o recorde de resgatados em uma mesmo operação em 2023, superando o 207 resgatados da vinícola de Bento Gonçalves (RS).

Desta vez, os trabalhadores estavam submetidos a condições de degradantes. Quem não tinha dinheiro, dormia no chão, em cima de panos ou de papelão.

“Como a empresa não fornecia alimentação, eles comiam o que tinham, muitas vezes só arroz com salsicha. Estavam em barracos extremamente precários, sem ventilação, mofados, com paredes sujas, goteiras, sem chuveiro. A empresa terceirizada vendia as ferramentas aos trabalhadores, como enxadões, o que, por lei, deveria ser fornecido gratuitamente”. Roberto Mendes, auditor fiscal e coordenador da operação.

Além disso, não havia instalações sanitárias nas frentes de trabalho, nem equipamentos de proteção individuais e agrotóxicos eram aplicados em áreas onde as pessoas estavam trabalhando.

“O perfil das vítimas de tráfico de pessoas para fins de trabalho escravo é muito parecido com os 207 trabalhadores resgatados na produção de uva no Rio Grande do Sul: nordestinos, negros e com pouca escolaridade”, explica. Em Bento Gonçalves, 93% eram baianos. Neste caso, eles eram do Piauí, do Maranhão e do Rio Grande do Norte.

Empresas

A prestadora de serviços terceirizados SS Nascimento Serviços e Transporte e cinco tomadores – quatro fazendas de cana e a unidade de Edéia (GO) da usina BP Bunge Bionergia – assumiram a responsabilidade e se dividiram para pagar os trabalhadores.

Ao todo foram R$ 2,57 milhões de verbas rescisórias e direitos trabalhistas, mais 50% desse valor em dano moral individual, totalizando R$ 3,85 milhões pagos às vítimas. Lopes explica que mais R$ 5 milhões estão sendo negociados como dano moral coletivo.