2 de maio de 2024Informação, independência e credibilidade
Política

Pacote anticrime: Moro lança campanha e Bolsonaro diz ser absurdo policial ser preso por excesso

Presidente declarou que acha um “absurdo” a condenação de policiais por “excesso” em serviço e afirmou ter encontrado muitos inocentes presos por estes crimes

Foto: Jorge William / O Globo

O ministro da Justiça, Sergio Moro, pediu que o Congresso Nacional aprove o pacote anticrime elaborado por ele como um conjunto de medidas necessárias para reforçar o combate à corrupção e a criminalidade violenta.

Uma campanha publicitária do governo Bolsonaro em defesa do pacote anticrime proposto por Moro resultará num gasto de pelo menos R$ 10 milhões.

Moro fez o apelo ao participar, nesta quinta-feira, no Palácio do Planalto, do lançamento da campanha publicitária de defesa do pacote. A cerimônia contou com a presença do presidente Jair Bolsonaro.

Prisão por excesso

Bolsonaro, claro, que roubou a cena com mais impropérios: ele voltou a defender ações violentas por parte da polícia. O presidente declarou que acha um “absurdo” a condenação de policiais por “excesso” em serviço. Disse, ainda, que estão detidos “muitos inocentes” no presídio da Polícia Militar (PM), em Benfica, no Rio de Janeiro.

“Conversando com policiais e bombeiros militares, não mais do que o sentimento, a certeza que lá dentro tinha muito inocente. Tinha culpado? Tinha. Mas também tinha muito inocente. Basicamente por causa de quê? Excesso. Pode de madrugada, na troca de tiro com o marginal, se o policial dá mais de dois tiros, eles ser condenado por excesso? Um absurdo isso daí”. Jair Bolsonaro, presidente.

Presume-se então que, no alto de sua sapiência, em uma rápida conversa Bolsonaro foi capaz de se mostrar melhor que advogados, promotores e juízes, sendo capaz de definir a inocência ou não de um preso com uma rápida conversa.

Infelizmente, no auto de sua primazia empática e intelectual, ele foi incapaz de usar o aparato do governo, afinal estava ao lado do ministério da Justiça, para solucionar o caso dos presos que ele tinha certeza de serem inocentes.

“Muitas vezes a gente vê que um policial militar, que é mais conhecido, né, ser alçado para uma função e vem a imprensa dizer que ele tem 20 autos de resistência. Tinha que ter 50! É sinal que ele trabalha, que ele faz sua parte e que ele não morreu. Ou queria que nós providenciássemos empregos para a viúva?”. Jair. Bolsonaro.

O presidente, no entanto, se esquece de muitas vidas de civis acabam ceifadas durante ações policiais excessivas, como a menina Ágatha no Rio de Janeiro ou o padeiro em Maceió, alvejado durante uma tentativa de assalto que ele nada tinha a ver.

Pacote anticrime

Ao falar sobre o pacote, o ministro Moro anunciou a redução de 22% no número de assassinatos no país nos sete primeiros meses deste ano em comparação com o mesmo período do ano passado.

Pelas contas dele, se levados os dados em consideração, 7.109 vidas foram poupadas. Ele atribui o resultado à atuação do governo e citou como um grande feito  a transferência de líderes de facções criminosas para presídios federais de segurança máxima,

Moro não responde, no entanto, como as medidas do pacote poderiam coibir crimes como o assassinato da menina Ághata. A suspeita é que o tiro tenha sido disparado por um policial. O pacote anticrime não contém propostas para combater a corrupção ou a violência policial.

Quando uma repórter voltou ao tema, mencionando o silêncio público do presidente Jair Bolsonaro sobre o caso, Moro disse simplesmente que a pergunta não era apropriada e se apressou em encerrar a coletiva. O pacote anticrime está em tramitação na Câmara desde março.